22.10.07

por um fio

merceeiros contam tostões com mãos de calabouço
sábios enfadados vendem inúteis verdades
deuses desnatados fazem ponto nas esquinas
garotinhas brincam com o amor de santos
e o sol ilumina indiferente
toda carne espessa que suspira
por um fio
de luz

16.10.07

PÉROLAS AOS POUCOS
(Zé Miguel Wisnik/Paulo Neves)
por Ná Ozzetti & André Mehmari

Eu jogo pérolas aos poucos ao mar
Eu quero ver as ondas se quebrar
Eu jogo pérolas pro céu
Pra quem pra você pra ninguém
Que vão cair na lama de onde vêm

Eu jogo ao fogo todo o meu sonhar
E o cego amor entrego ao deus dará
Solto nas notas da canção
Aberta a qualquer coração
Eu jogo pérolas ao céu e ao chão

Grão de areia
O sol se desfaz na concha escura
Lua cheia
O tempo se apura
Maré cheia
A doença traz a dor e a cura
E semeia
Grãos de resplendor
Na loucura

Eu jogo ao fogo todo o meu sonhar
Eu quero ver o fogo se queimar
E até no breu reconhecer
A flor que o acaso nos dá
Eu jogo pérolas ao deus dará

download

Esta nota é provisória e irá se autodestruir em uma semana. Por isso, sem comentários. Baixem e ouçam pelo menos três horas seguidas, depois comprem os cds que estão à venda no (na?) submarino.

15.10.07

honestidade

A mulher mais honesta que conheço é aquela que me disse, com um sorriso tranqüilo, que é ninfomaníaca.

11.10.07

Ajustar as arruelas
apertar as porcas
azeitar a máquina
ligar o motor
enquanto o sublime passa
ao largo
intocado
e a vida se esvai pelo ralo.

10.10.07

a cultura e a morte - nova série (7)

É muito comum pensar-se que a cultura é algo que se sobrepõe à natureza: como se o indivíduo exprimisse uma natureza primeira que a cultura viesse moldar, reprimir e mesmo distorcer, e como se o produto da cultura, ou seja, o próprio homem transformado em animal social, fosse menos do que esse suposto indivíduo pré-social. Em poucas palavras, ao socializar-se o homem renunciaria à sua "individualidade" livre e selvagem e se tornaria um animal de rebanho.

Há tantos contra-sensos nessa concepção, no entanto tão difundida, que é impossível dar conta deles sem fazer correr muita tinta (ou muitos pixels). Por ora vou me contentar em dizer que, ali onde se produz o animal de rebanho, ali onde se produz uma homogeneidade real ou ideal ancorada em valores, vivencia-se não a cultura nela mesma, mas sua apropriação por forças ou poderes de outra natureza: Estado, Religião, Moral, etc. A cultura, ação do homem sobre o homem para produzir o homem, prescinde de valores para afirmar-se. O homem da cultura é o homem que deixou de cultuar valores, sejam eles quais forem, e passou a produzir-se a si mesmo e aos demais homens para além de todos os valores ou, como dizia o filósofo, para além do bem e do mal. Isso só parecerá confuso para aqueles que ainda não perceberam que produzir a si mesmo e ao outro é imediatamente produzir valor, valorar, valorizar, intensificar a vida para além de qualquer tábua de valores. "Não matarás" não significa absolutamente nada para o homem da cultura: não porque ele tenha se outorgado uma licença para matar, mas porque no conjunto de estratégias possíveis de produção de si e do outro simplesmente não há lugar para o assassinato. O homem da cultura não é nada ingênuo e sabe que cada palavra e cada gesto seu está produzindo a si mesmo e aos demais; mas se ele não é ingênuo, pode-se dizer que, ao dedicar sua vida à criação, ele reconquistou a inocência perdida.

É aqui que os contra-sensos apontados mais acima encontram sua solução. Nós não conhecemos a cultura, apenas suas apropriações e contrafações. Na cultura como tal não existe panteão de valores ou ideal de homogeneidade; ao contrário, é apenas na cultura e pela cultura que cada homem é levado a tornar-se mais, ou seja, a conquistar sua singularidade extrema, que se exprime no gozo de si como diferença pura (alteração, diferença de si para consigo mesmo) e no gozo coletivo desse repertório de diferenças, cada uma passando por todas as demais numa festa produtiva sem fim.

9.10.07

Trópico de Capricórnio

Leitura de um trecho.

download
(9 Mb)

5.10.07

a voz de Henri Bergson

Este breve trecho de uma conferência sobre arte proferida na Sorbonne é, até onde se sabe, o único registro existente da voz de Bergson. São apenas 37 segundos e a qualidade do áudio é muito ruim, mas nada disso importa se levarmos em conta a raridade e a importância desse material. A data da gravação é desconhecida. Sua primeira difusão pelo rádio aconteceu na R.D.F. em 1948.

download (1 Mb)

3.10.07

coisa de filósofo

A morte é de fato um grande problema - mas para os outros, que terão que se virar para dar um sumiço no cadáver.
eXTReMe Tracker