23.5.08

philip glaass

outras sementes

O dia de hoje marca uma pequena revolução na maneira pela qual a justiça brasileira encara o problema das drogas. Trata-se de uma decisão de três magistrados da 6ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).

No início do mês eu escrevi uma nota sobre a proibição das passeatas a favor da legalização da maconha. Não demorou para que o orkut suprimisse o atalho (para este blogue) que eu mantinha no meu perfil. Posteriormente, no entanto, a OAB se manifestou publicamente de uma maneira condizente com os argumentos que exponho nessa nota.

Foi um alento. É muito bom saber, depois da minha recente decepção com os juízes que proibiram as passeatas, que existem juízes que pensam. Nem vou entrar em detalhes sobre a decisão do dia de hoje. Leia diretamente a matéria publicada n'O Estado de São Paulo.

20.5.08

seis bagatelas

Para Joice

Embora a brevidade dessas peças seja um argumento persuasivo a seu favor, ela mesma requer, por outro lado, uma justificativa.

Considere quanta moderação é requerida para expressar-se tão brevemente. Você pode dilatar cada olhadela num poema, cada olhar num romance. Mas expressar um romance num único gesto, um júbilo num suspiro - tal concentração apenas pode estar presente em proporção direta à ausência de autopiedade.

Estas peças só serão entendidas por aqueles que compartilham uma fé, a de que a música pode dizer coisas que só podem ser expressas pela música.

Estas peças são capazes de encarar as críticas com tão pouco quanto esta - ou qualquer - crença.

Se a fé remove montanhas, a descrença pode negar sua existência. E a fé é impotente contra tal impotência.

Sabe o músico tocar estas peças, sabe o ouvinte recebê-las? Podem músicos e ouvintes cheios de fé deixar de render-se uns ao outros?

Porém o que devemos fazer com os pagãos? Fogo e espada podem diminuir seu número; apenas crentes precisam ser senhores de si.

Possa este silêncio soar para eles.

Arnold Schoenberg: Prefácio às Seis Bagatelas para quarteto de cordas, op. 9, de Anton Webern, IN Neue Wiener Schule - Lassale Quartet (traduzido do alemão para o inglês por Eugene Hartzell), Deutsche Grammophon, 1971 (1987), p. 306-307. Tradução minha.

17.5.08

arqueologia do futuro

série objetos

2008 D.C.
Brasil - chaves de repartição pública



(clique na imagem para ampliá-la)
(click to enlarge)

15.5.08

Firefox dentro do Firefox dentro do...


Quer reproduzir o truque? Coloque este código na barra de endereços:

chrome://browser/content/browser.xul

Absolutamente inútil, mas divertido. =/


crédito: SunBeam’s Cave

4.5.08

a semente da serpente

A melhor sociedade será portanto aquela que isenta a potência de pensar do dever de obedecer, e guarda-se em seu próprio interesse de submetê-la à regra do Estado, que só vale para as ações. Enquanto o pensamento é livre, portanto vital, nada é comprometido; quando ele deixa de sê-lo, todas as outras opressões são possíveis, e já realizadas, toda ação torna-se culpável, toda vida ameaçada.

Gilles Deleuze

Eu quero crer que a palavra de ordem das passeatas a favor da legalização da maconha, marcadas para hoje em todo o país, não é "fumem maconha" ou "maconha é um barato".

Pelo que pude entender, as passeatas pretendem questionar a proibição do uso e do comércio de maconha no Brasil. Não é a maconha que está em questão, mas a lei que a proíbe.

Assim, os magistrados que invocam a lei que proíbe a apologia às drogas para proibir passeatas que pretendem colocar em discussão a lei que criminaliza a maconha cometem um erro de princípio tão pueril que eu me pergunto como é que puderam chegar a uma posição de tão alta responsabilidade. Sinto arrepios ao pensar que minhas ações podem vir a ser julgadas por gente que manifesta uma falta de discernimento tão flagrante.

O próximo passo, pelo que vejo, será proibir qualquer manifestação a favor da legalização do aborto por alegada apologia ao assassinato. Ou proibir qualquer manifestação a favor de um pedido de impeachment por alegado desacato à autoridade.
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