21.11.08

pátria
patrão
patrimônio
patranha

antipasseatas

Pois é, o termo não existia, ao menos no sentido que quero dar-lhe; tive que inventá-lo. E já que o brasileiro médio leva tudo na galhofa, talvez não fosse má idéia passar da invenção da palavra à invenção da coisa.

Por exemplo, não temos disposição para ir às ruas exigir um projeto de educação pública de qualidade (começando pelos locais onde a população negra e parda é, estatisticamente, majoritária: isso é que seria uma "ação afirmativa" inteligente.) Seria "chato". Seria "sério" demais - e nem mesmo seria heróico como em tempos idos. Qualquer desculpa, até o sol ou a chuva, seria suficiente para escafedermo-nos.

Diante desse quadro, por que não organizar antipasseatas? Ainda tomando a educação como exemplo, poderíamos ir às ruas para clamar pelo fim das escolas públicas e pela transformação dos prédios em bordéis - onde as prostitutas se vestiriam de colegiais, é claro. Ao menos seria divertido: todo mundo antiprotestando e anti-reivindicando numa enorme e carnavalesca antipasseata cujas palavras de ordem poderiam ser: "fechem os livros e abram as pernas!", ou então: "menos professoras e mais putas!", ou ainda: "educação de cu é rola!".

Quero crer que nossos governantes perceberiam a ironia mordaz dessas manifestações. E se não percebessem, bem, nunca é tarde para voltar a estudar.

11.11.08


Não é preciso ir à China para ver a língua portuguesa ser maltratada. Por vezes, até quem deveria zelar por ela o faz: como esses que resolveram subtrair da palavra "idéia" o acento que já se pendurava ali antes do primeiro vagido de Platão. E é bastante comum vermos em cartazes de rua as mais bizarras sevícias à língua de Camões; a coisa já rendeu (e continua rendendo) muitos momentos de humor e eu até a acho divertida.

Mas eu não me sentiria à vontade publicando aqui a imagem de um desses erros colhidos em humildes barraquinhas de cachorro-quente. Afinal, se as pessoas que ali vendem seu pão de cada dia não manejam bem a nossa língua e não demonstram a menor preocupação com tais floreios, quem entre nós seria capaz de culpá-los? O que nós lhes demos para nos arrogar o direito de fazer semelhantes exigências? Essa espécie de zombaria me soa vã, preconceituosa e elitista. É o tipo de comportamento que se pode esperar de um entrevistador de TV, mas não de um pensador.

Mas e quando o erro estala no seio da burguesia - dessa mesma burguesia que, apesar de ter estudado em boas escolas, jamais se preocupou com a qualidade da educação oferecida ao pessoal do cachorro-quente? Que argumento eles poderiam invocar para obter nossa complacência? Nenhum. Tudo o que lhes resta é tentar pagar na mesma moeda e procurar erros em nossos escritos. Provavelmente encontrarão; mas terão que procurar bastante, e além disso sempre teremos na ponta da língua a resposta que eles merecem: nós escrevemos milhares de palavras, ao passo que eles conseguem errar feio redigindo uma simples lista.

A foto acima estava na minha cabeça há pelo menos dois anos, mas só agora pude realizá-la. Ela foi tirada no térreo do Plaza Shopping, em Niterói.

E já que o assunto é esse, não custa deixar aqui uma última tirada: se você não percebe que a nossa língua é mais maltratada do que uma personagem de Sade (só que publicamente, o que é ainda mais perverso), é porque você mesmo a maltrata!
eXTReMe Tracker