30.6.15

Zé Caca Amarga ou o bullying histérico da massa ignara


Abro os jornais pela manhã e descubro que Zeca Camargo, contratado da Rede Globo e colunista da Folha de São Paulo, envolveu-se numa confusão com os fãs de Cristiano Araújo, um artista recém-falecido, juntamente com sua namorada, em circunstâncias trágicas. Tudo porque o apresentador elaborou toda uma crítica do atual panorama cultural brasileiro a partir da comoção do público diante da morte do cantor: tão somente, diz ele num texto mais recente, uma denúncia do "empobrecimento da pauta cultural" do jornalismo brasileiro.

É claro que eu não vou perder meu tempo discutindo o mérito (ou demérito) das análises de Zeca Camargo a respeito da "ausência de fortes referências culturais" e da "pobreza da atual alma cultural brasileira". Também não pretendo, obviamente, fazer "bullying" com o pobre homem ou juntar-me ao "coro histérico" daqueles que não admitem que assumiram uma "postura precipitada" ao criticá-lo (palavras do apresentador). Nada farei senão contar uma experiência minha.

Em novembro de 2014 faleceu o professor Leandro Konder. Como eu havia sido seu aluno e tinha duas histórias interessantes para contar a seu respeito, escrevi sobre essas experiências um texto que, no entanto, não cheguei a publicar. E não o publiquei porque (para simplificar as coisas) ele combinava um carinhoso e merecido elogio (ao homem) com uma crítica bastante dura (ao teórico). Eu estava num dilema: se editasse o texto e publicasse apenas o elogio, estaria traindo a mim mesmo; e se publicasse o texto completo naquele momento, pouco depois de sua morte, estaria traindo a ótima relação pessoal que tive com ele e, de quebra, desrespeitando todas as pessoas que dele gostavam.



Moral da história? Lição de jornalismo? Mesmo que você, como este colega de Zeca, esteja absolutamente convencido da necessidade de colocar um defunto "em perspectiva", experimente, antes de fazê-lo, conceder à dor alheia um período de luto. Em outras palavras, espere o cadáver esfriar... Nem que seja apenas para evitar que os outros o confundam com um psicopata insensível a questões desse naipe.


20.6.15

Dilma e Xô Soares, Dunga e Neymar

Programa do Jô (2 de dezembro de 2014)

Não compreendo a onda de intolerância gerada pela recente entrevista concedida por Dilma a Jô Soares. Não assisto ao programa regularmente, mas sei que, já em 2 de dezembro de 2014, o apresentador ficou em pânico quando entrou em pauta de discussão a mera possibilidade de uma destituição de Dilma. Eu não saberia dizer por que ele sente tanto medo de contrariar o governo do PT. Tudo o que sei é que esse medo transparece em seus olhos de maneira muito clara. Houve quem sentisse raiva do apresentador a ponto de desejar sua morte; mas alguém que, já numa idade relativamente avançada, desfruta de tanto prestígio entre os brasileiros e que, mesmo assim, sente tanto medo (seja da opinião pública, seja dos poderosos de plantão), deveria antes ser digno de pena.

* * *
No mais, o prestígio intelectual de que Jô Soares desfruta no Brasil apenas prova que nós, brasileiros, nos deixamos enganar muito facilmente. (Esta foi a maneira mais elegante que encontrei para dizer o que estou pensando; que cada qual entenda como pode.) Notem que não estou me referindo ao Jô artista e não estou questionando seu talento como comediante e homem de teatro, ou mesmo sua inteligência. Só estou dizendo que levar o "intelectual" Jô Soares a sério equivale a assinar um atestado de indigência mental profunda.

Seria possível escrever um livro inteiro a esse respeito, mas deixarei aqui somente um exemplo.

Este homem estudou na Suíça, conhece o mundo todo, sabe exprimir-se em várias línguas,
escreveu livros e comanda o programa de entrevistas de maior prestígio da TV brasileira.

 * * *
Ah, sim! Já no início do segundo tempo (antes mesmo dos quinze minutos de jogo) eu comentei com minha mulher: Neymar levou um cartão amarelo, está visivelmente nervoso e, ainda por cima, não está jogando nada. Tem de ser substituído!

Mas Dunga, em vez de fazer o óbvio, preferiu manter Neymar em campo. Agora todo mundo está falando mal do Neymar, mas ninguém comentou a falta de visão do 'técnico'. Será que o Brasil vai se classificar para 2018?

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