10.12.15

Cultura e política (3)


Entre tantas notícias importantes, preocupantes ou francamente trágicas, chama-me a atenção esta banalidade: Dilma, Lula e o Petrolão foram, ao longo de 2015, os temas mais comentados no Facebook.

É compreensível. Num momento, os brasileiros achavam-se donos de uma gigante do petróleo e de enormes reservas que prometiam um futuro glorioso e, no momento seguinte, descobriram que a esquerda brasileira obteve a proeza de liquidar a empresa – provavelmente para sempre, já que o mundo caminha na contramão da queima de combustíveis fósseis.

Mas isso todos já sabem. O que me chamou a atenção foi outra coisa: o seqüestro dos brasileiros. Não me refiro ao futuro de tantos e tantos brasileiros, que é cotidianamente roubado pela classe política do país. Isso tampouco é novidade. Refiro-me, isso sim, ao fato mesmo (atestado pelo Facebook) de estarmos falando das mesmas pessoas e dos mesmos fatos, dia após dia.

Esse falatório rouba-nos o futuro uma segunda vez. Deveríamos estar nos preparando (ou preparando nossos jovens) para pintar quadros e descobrir vacinas. Em vez disso, tagarelamos sobre gente medíocre que jamais pintará quadros ou descobrirá vacinas.

Não estou afirmando que política não tem nenhuma importância, ou que não deveríamos jamais falar sobre política. Também não estou afirmando que o maior escândalo de corrupção da história é um tema que deveria nos deixar indiferentes. Estou apenas dizendo que talvez devêssemos nos preocupar bem mais com aquilo que realmente importa e faz diferença (a Cultura, tal como eu a defino) em vez de perder tempo tagarelando sobre um punhado de medíocres que parecem não apenas viver às nossas custas, mas também divertir-se às nossas custas.

Em resumo, admito que esse seqüestro coletivo tem sua razão de ser. Mas creio que já passou da hora de o reconhecermos como aquilo que ele é: como um seqüestro coletivo.

* * *

Quem fala sobre educação em vez de educar? Quem fala sobre saúde em vez de curar? Quem promete (tirando de promessas seu sustento) em vez de realizar? A classe política, claro.

Cabe a nós educar, curar, pintar, descobrir vacinas e assim por diante. Só fazendo essas coisas nos tornaremos capazes de impor limites a esses que enriquecem às nossas custas ou, o que chega a ser ainda pior, a esses que acreditam saber, melhor do que nós mesmos, o que é melhor para nós.
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