23.3.17

para quem tiver ouvidos


As palavras estão aí para serem definidas e redefinidas. E quando não "estão aí", nós as inventamos. O mesmo se aplica aos conceitos e a uma infinidade de outras coisas; limito-me, no entanto, a referir-me ao meu próprio campo de atividade.

Os homens, entretanto, acreditam que as palavras os definem. Essa parece ser mesmo uma ilusão fundamental (constitutiva) da humanidade. De definidores (criadores) passamos a definidos: encerrados e delimitados por uma definição ou conceito.

Seria maravilhoso se tivéssemos aqui apenas uma ilusão epistemológica, de interesse puramente teórico. O problema é que essa ilusão tem as mais graves conseqüências práticas.

Se criar, definir e redefinir palavras e conceitos nos torna senhores de nossas vidas, deixar-se delimitar por uma definição ou conceito é tornar-se escravo: ainda que nós mesmos tenhamos inventado a palavra ou conceito que nos define. Por exemplo, os "arianos" definiram-se a si mesmos como tais e nem por isso eram menos escravos.

Mais uma vez: são as palavras e conceitos que devem ser definidos e redefinidos. Não as pessoas.

17.3.17

groboroba

Agro é tech
Agro é pop
Agrobo





Ver também: Groboroba 2

9.3.17

pseudíssimo

A democracia vem acumulando derrotas nos últimos tempos entre nós, e torna-se mais precária a cada revelação sobre a corrupção epidêmica que parece não poupar ninguém. A cada nova desmoralização de políticos e política, a nossa democracia apanha mais um pouco. Há quem diga que o fato de ainda estar de pé, mesmo que só formalmente, é um bom sinal: em outros tempos, ela já estaria na lona, e a alternativa estaria nas ruas. Mas a surra continua. Como nas lutas de boxe em que só um lado apanha, sem defesa, sem reação possível — e o pior, sem torcida — não é um espetáculo bonito.
Luis Fernando Veríssimo (O Globo,  09/03/2017)


Revelar a corrupção precariza a democracia?

A "revelação sobre a corrupção endêmica" não seria, ao contrário, prova de que se tornou impossível acobertar a corrupção ou, para usar o célebre clichê, varrê-la para debaixo do tapete?

O funcionamento de órgãos de fiscalização capazes de investigar e punir a corrupção não seria, ao contrário, uma prova de força de nossa incipiente democracia? Ou estaríamos melhor arranjados se uma casta qualquer pudesse, em nome da democracia, agir como bem entendesse, sem nenhum tipo de freio institucional?

É a denúncia que desmoraliza os políticos? Ou aquilo que os desmoraliza são seus próprios atos?

Se apenas um dos lados apanha, e esse lado é a democracia, então o outro lado, o que bate (justiça, polícia, ministério público), deve ser considerado... antidemocrático?



P.S.: Embora fosse minha intenção citar o autor, acabei trocando o termo "epidêmica" (presente no texto original) pelo termo "endêmica". Pelo que talvez valha como ato falho, fica como está. (13:12)


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