29.1.19

Um alerta sobre hipotireoidismo e levotiroxina (hormônio da tireóide)

RESUMO: Jamais guarde a levotiroxina na geladeira

Certa vez, num comentário a um vídeo do YouTube, uma mulher disse ter melhorado muito ao trocar a levotiroxina fabricada no laboratório "A" pela fabricada no laboratório "B".

O comentário chamou-me a atenção, já que eu estava pesquisando o assunto justamente porque havia experimentado uma significativa melhora ao passar a tomar o hormônio desse mesmo laboratório "B".

Numa das respostas a esse comentário, um usuário desbancou a moça dizendo que aquela afirmação era anticientífica, pois se ela estava tomando a mesma dose da mesma substância, não poderia haver diferença alguma, devendo o resultado obtido explicar-se pelo efeito placebo.

É o tipo de afirmação (ela sim, anticientífica) que demonstra que a educação brasileira é um fiasco, e se você não percebeu isso de imediato, convido-o a examinar as palavras do rapaz e a descobrir por si mesmo o tamanho da bobagem dita por ele. Mas não é sobre isso que eu quero falar aqui.

Afinal, por que eu estava me sentindo muito melhor ao usar o hormônio do laboratório "B"? Um efeito placebo era altamente improvável, já que eu havia simplesmente ganho uma amostra grátis do remédio (casualmente ofertada, aliás, pelo meu cardiologista) e que minha expectativa de obter uma diferença qualquer no tratamento a partir dessa troca de laboratórios era zero.

Quem solucionou esse problema para mim foi meu endocrinologista, Dr. Leônidas Di Piero Novais.

Até então eu estava guardando o hormônio, que é muito sensível a variações de temperatura, dentro da geladeira, e isso estava reduzindo sua eficácia em mais ou menos um terço. Como estávamos no inverno e eu não vi, naquela circunstância, necessidade de guardar a amostra grátis do laboratório "B" na geladeira, o remédio se manteve íntegro e fez muito mais efeito.

É o tipo de erro ao qual podemos ser induzidos facilmente, já que usamos refrigeradores precisamente para conservar por mais tempo as características dos alimentos, pois sabemos que o calor acelera as reações químicas que degradam os nutrientes... No caso da levotiroxina, porém, obteremos o efeito inverso, atrapalhando bastante o tratamento. Por óbvio, também devemos evitar o armazenamento do hormônio em lugares aquecidos (como eletrodomésticos). Há quem guarde seus remédios em cima da geladeira, o que é inteiramente desaconselhável.

Fiz uma rápida pesquisa e não achei nada a respeito desse tema na Internet lusófona, o que me animou a registrar aqui o precioso esclarecimento do Dr. Leônidas.

Como o problema abordado aqui diz respeito às condições de armazenamento do remédio, não há razão para mencionar nomes de laboratórios. Por outro lado, seria de interesse público saber como se dá o armazenamento da levotiroxina nas farmácias, mas num país disfuncional como o nosso sempre haverá grandes desastres para nos distrair dos pequenos. De todo modo, espero que esta nota ao menos sirva de alerta para outros pacientes que dependem do uso da levotiroxina.

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16.1.19

a uma pedra no meio do caminho

Muitos brasileiros desaprenderam (ou jamais chegaram a aprender) em que situações deve-se usar a preposição "a" e a forma verbal "há". Mesmo em jornais dos mais expressivos, outrora assombrados por escritores, a troca de um vocábulo pelo outro, entre outros erros primários, é vexatoriamente corriqueira.

Quem viveu a longa era em que esse erro era inexistente (e não viveu numa caverna analógica nestes últimos dez anos) sabe que a responsabilidade é da Microsoft, pois o péssimo corretor gramatical do então onipresente Microsoft Word 2007 (e possivelmente de outras versões do programa) induz a esse e a vários outros erros gramaticais. Deveríamos até considerar o pagamento de uma compensação (talvez a doação de livros para bibliotecas?) pelos prejuízos generalizados que a ferramenta mal feita causou à educação do país.

Passado, entretanto, o período inicial de indignação contra as malditas corporações, acabaremos nos dando conta de que jamais teríamos sido ludibriados pelo maligno corretor gramatical se tivéssemos feito nosso dever de casa e aprendido o raio do Português corretamente. Nesse caso, teríamos desligado o incorretor, ou o teríamos usado de forma crítica, ou teríamos ainda trocado de processador de textos. Eu mesmo me diverti muito tirando prints de vários erros bárbaros sugeridos pelo Word 2007 na época em que traduzi As Leis Sociais. Portanto, de nada adiantará aplicar a (merecida) multa na corporação malvada se não fizermos, ao mesmo tempo, nosso mea culpa.

Quais serão as conseqüências sociais e políticas dessa regressão generalizada na compreensão e no uso correto da língua portuguesa? Que será dos brasileiros, expostos o tempo todo às palavras de ordem de partidos e religiões, porém incapazes de acompanhar discursos um pouco mais complexos que lhes permitiriam ampliar sua compreensão das coisas?

Apenas constatar o fato (de que os brasileiros lêem e escrevem cada vez pior) e tornar a criticar a "qualidade do ensino" não vai nos tirar do buraco em que estamos nos metendo. Já sabemos que falhamos miseravelmente; saberemos inventar caminhos para reverter a situação?


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