Em primeiro lugar, porque há, assim como no Windows 8, uma loja da Microsoft integrada ao sistema operacional. Se não fosse pelo enorme número de programas desenvolvidos para ele, o Windows jamais teria se tornado o que é hoje. A força do Windows reside nesse mutualismo entre a Microsoft e uma legião de desenvolvedores de software; isso é de conhecimento comum e foi afirmado muito claramente nas palestras proferidas em junho no WPC (Worldwide Partner Conference). Pois bem: a loja da Microsoft tem por objetivo reforçar o mutualismo, dando enorme visibilidade aos desenvolvedores e dando à Microsoft uma fatia dos lucros gerados pelos programas e aplicativos desenvolvidos pelos seus parceiros.

Em terceiro lugar, a Microsoft está planejando mudar o esquema de licenciamento do Windows. Em vez de cobrar uma só vez pela licença do sistema operacional, como agora, a empresa pretende transformar o Windows num serviço pago de acordo com um modelo de subscrição. Isso irá provavelmente acontecer depois de 2025, quando o Windows 10 será descontinuado, mas aqui eu estou apenas oferecendo meu palpite. Ninguém sabe ao certo como essa transição vai acontecer, e quando.
Em quarto lugar, a Microsoft está querendo mudar os hábitos do usuário para dar uma espécie de golpe no Google. A jogada é simples: deslocar a busca na Internet, tradicionalmente realizada a partir de um navegador, para um campo localizado na barra de tarefas (Cortana). Ora, o Cortana (ou "a" Cortana) utiliza, evidentemente, o mecanismo de busca Bing, da própria Microsoft, e mudar isso seria muito difícil. No entanto, dois dias depois do lançamento do Windows, já apareceu o Chrometana, que permite ao usuário escolher (como ocorre no navegador) seu buscador preferido.
Em quinto lugar, e aqui está a maior e mais desagradável surpresa, a Microsoft pretende começar a lucrar com o uso (e a venda a terceiros) dos dados pessoais gerados pelos usuários do Windows. A comunidade hacker está com os olhos arregalados com a desfaçatez da Microsoft. E não se trata apenas de gente que já está "do outro lado" há muito tempo, como Richard Stallman. Mesmo num fórum como o MDL, tradicionalmente simpático à Microsoft e ao Windows, os programadores e administradores de sistemas ligaram, por assim dizer, o alerta vermelho.
Portanto, Windows Store, nuvem, Windows como um serviço, imposição do Bing e uso de dados pessoais dos usuários são, basicamente, as razões pelas quais a Microsoft está oferecendo de graça o Windows 10. Essas razões, somadas à presença simultânea do Windows 10 em diferentes plataformas, fazem desse sistema operacional uma aposta radical (e arriscada) da gigante de Redmond.
Na terceira e última postagem, a mais longa e importante desta série, veremos o que o Windows 10 significa para o consumidor ou usuário. Para o leitor que deseja fazer seu dever de casa, recomendo a leitura da Declaração de Privacidade da Microsoft (ou ao menos da parte relativa a dados pessoais), seja em português, seja em inglês.
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