27.4.19

A pobre da Filosofia

Haveria algo de divertido e irônico no recente anúncio do corte de verbas nas áreas de Filosofia e Sociologia? Certamente que sim.

Em primeiríssimo lugar, diverte-me ver a Filosofia, que nasceu há milhares de anos, ser equiparada a uma disciplina como a Sociologia, que nasceu ontem (isto é, no final do século XIX) com Gabriel Tarde e Émile Durkheim.

Me diverte que ataquem justamente a Filosofia, pois, hoje, ela não tem poder algum, mesmo nos grandes centros de produção de conhecimento, e menos poder ainda num país como o nosso.

Me diverte ver a Filosofia, que é justamente o campo onde se estuda uma disciplina chamada Ética, ser desvalorizada num dos países mais corruptos do mundo.

Me diverte pensar que, ao menos na minha época, a presença do marxismo numa pós-graduação de Filosofia (UFRJ) era praticamente nula. E duvido que isso tenha mudado tanto assim. Filosofia é um universo muito vasto, de modo que existe lugar para o marxismo na Filosofia, mas jamais se poderá fazer da Filosofia um apêndice do marxismo (a não ser, é claro, num regime totalitário ou numa cabecinha muito limitada).

Me diverte (e me diverte imensamente) pensar que os mesmos que acusam as universidades de forjar imbecis em série sejam os mesmos que defendem a idéia de liberdade e de responsabilidade individual. Afinal, somos livres e responsáveis ou somos produzidos pelo "sistema" como sardinhas em lata? Fico com a impressão de que esse pessoal mal sabe do que está falando.

Me diverte pensar que alguém possa chutar o que seria um dos três pés de uma civilização que diz defender.

Só não me diverte pensar que os mais pobres terão ainda mais dificuldades para estudar Filosofia. Mas, como diria o filósofo, no Brasil pobre só se fode.

Nenhum comentário:

Postar um comentário