27.12.06

"Em toda a sua maneira de viver como de pensar, Spinoza estabelece uma imagem da vida positiva, afirmativa, contra os simulacros com os quais os homens se contentam. E não apenas os que com eles se contentam, mas o homem com ódio e vergonha da vida, um homem da autodestruição que multiplica os cultos da morte, que realiza a união sagrada do tirano e do escravo, do padre, do juiz e do guerreiro, sempre a encurralar e mutilar a vida, a fazê-la morrer rápida ou lentamente, a recobri-la ou sufocá-la com leis, propriedades, deveres, impérios: eis o que Spinoza diagnostica no mundo, essa traição do universo e do homem. (...) A vida não é uma idéia, uma questão de teoria em Spinoza. Ela é uma maneira de ser, um mesmo modo eterno em todos os atributos. E é somente desse ponto de vista que o método geométrico adquire todo o seu sentido. Este, na Ética, se opõe ao que Spinoza chama de sátira; e a sátira é tudo que sente prazer com a impotência e a dor dos homens, tudo que exprime o desprezo e a zombaria, tudo o que se nutre de acusações, malevolências, depreciações, interpretações baixas, tudo o que quebra a alma dos homens (o tirano tem necessidade de almas quebradas, tal como as almas quebradas têm necessidade de um tirano)."

Deleuze: Spinoza, philosophie pratique
(Paris, éditions de minuit, 1981, pp. 21/23)
Tradução livre e precipitada. =)

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