5.2.07

segunda nota sobre a paixão amorosa

A paixão amorosa é uma abertura: ela nos faz sair de nós mesmos e ir além de nossas preocupações meramente fricativas e digestivas. Só que a paixão amorosa, se não conduz a um novo fechamento, conduz a uma busca incessante de repetição. Não é difícil entender porque isso acontece. Por definição, a paixão depende de um outro que nos afeta; e é por um único e mesmo movimento que ela nos abre para o outro e desloca nosso centro de gravidade para algum ponto fora de nós mesmos. É por isso que as alegrias extremas remetem à ação - auto-afecção, self-enjoyment ou, em uma palavra, à criação - e não à paixão. Aquele que age (nesse sentido bem determinado, que eu diria spinozista) já não está fechado em si, mas também não está fora de si: pois ele conseguiu, de algum modo, colocar todas as coisas dentro de si para fazê-las refluir como dom à "humanidade mal-agradecida". A paixão quer tudo para si; mas a ação, porque já encerra em si tudo de que precisa, realiza de fato a abertura: como dádiva. Não importa o que se faz e o que se dá: panquecas, biscoitos, cantos, textos e assim por diante; o que importa é que em cada uma dessas coisas se tenha posto o melhor de si, a mais pura medida de vida. E se existe na filosofia algo que serve para absolutamente todos, é essa idéia de que a liberdade não está "dada" de antemão, mas que ela é uma conquista, e a maior de todas.

9 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

querido Chico
êxtase, puro êxtase... cânticos à vida! Que alegria vc me proporcionou nestes momentos de leitura agora. E, bateu a saudade também. Vamos marcar algo para qualquer dia desses?
beijos do brejo

5 de fevereiro de 2007 às 19:57  
Blogger Francisco Fuchs disse...

Vamos marcar sim, Marianna. E vamos marcar logo, que eu sinto saudades também. Beijo grande!

5 de fevereiro de 2007 às 22:48  
Blogger Unknown disse...

grazie.

5 de fevereiro de 2007 às 23:07  
Blogger Francisco Fuchs disse...

=)

6 de fevereiro de 2007 às 06:30  
Blogger fred girauta disse...

"a poesia é o sonho da filosofia"

Francis Toucinho

6 de fevereiro de 2007 às 14:32  
Blogger Francisco Fuchs disse...

"O filósofo busca; os poetas se acham"

Frederico New Man

6 de fevereiro de 2007 às 18:18  
Anonymous Anônimo disse...

"A arte de amar é exatamente a de ser poeta" C. M

Repetição que não cansa e, por isso mesmo, é doação. Há quem ateste que há um cansaço insuportável depois dessas sessões de repetição. Tão insuportáveis, que equipamos a mente o corpo para mais!

13 de fevereiro de 2007 às 05:51  
Anonymous Anônimo disse...

A última fala esquisita esquecida era minha. Osmar

13 de fevereiro de 2007 às 05:53  
Blogger Francisco Fuchs disse...

Há uma repetição que mata e uma repetição que salva... =)

14 de fevereiro de 2007 às 05:07  

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