11.11.07

a cultura e a morte - nova série (8)

Enganar-se-ia aquele que descrevesse o agente da cultura como alguém marcado pela vaidade e pelo desejo de reconhecimento. Afinal, onde grassam tais sentimentos o que se constata é o fracasso da própria cultura, sua degeneração em um sistema de poder calcado num sistema de representações.

Mas o que o agente da cultura deseja não é o desejo do outro, não é seu reconhecimento: o que ele deseja é tão somente um eco. É preciso dar à palavra eco um sentido muito preciso, sob pena de permanecer no vago. Sem dúvida o eco ressoa imitativamente o som (o signo) emitido pelo emissor, e nesse sentido poderíamos pensar que o eco desejado pelo agente da cultura seria precisamente a repetição, tão fiel quanto possível, daquilo que ele mesmo emite. Estaríamos assim tomando o eco como uma representação, como a re-apresentação daquilo que foi emitido, e talvez tomando a semelhança entre o eco e a emissão original como o próprio critério de sucesso: tal como acontece com o professor que toma a lição e compara com as suas as respostas dos alunos. Mas esse é precisamente o aspecto mais neglicenciado pelo agente da cultura, pouco lhe importando que o eco seja inteiramente diverso da "mensagem" original: ele valoriza o eco apenas como índice de um contato. Ele está menos preocupado com a "mensagem" (e sua "comunicação") do que com o fato de que sua emissão, ao invés de perder-se no vazio, encontrou um anteparo. O eco nada mais é do que o signo de que o signo emitido encontrou-se com um receptor. É uma questão sobretudo física: houve um contato e um encontro; e o eco é precisamente o signo desse encontro.

Infelizmente, o sistema de ensino atual valoriza sobretudo a parte representativa do eco (a resposta imitativa, o retorno do idêntico ou do semelhante) em vez de estimular uma física das idéias e dos afetos: "ensinar", ao invés de forçar o pensamento a pensar e a criar.

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