13.11.07

madame la doctoresse

Sou uma mulher moderna. Gosto de gente inteligente, sensível e articulada. Onde botei meus óculos? Tenho gosto pela cultura - música, cinema, literatura, pintura e museus. Já viajei os cinco continentes e falo oito línguas. Hélas, como é que eu vou achar meus óculos sem os meus óculos? Modéstia à parte, sou doutora em semiótica e sei das coisas. Opiniática é a mãe! Eu sou é mulher de opinião. Arre, que está tudo embaçado. Todos esses filósofos que não fazem do amor a realidade suprema sofrem de problemas sexuais, ouçam o que estou dizendo. Somos seres psíquicos e, como dizia a minha amiga Marina, tudo é um problema de somatização corporal. Mas onde estão os malditos óculos? Não consigo enxergar absolutamente nada! Acho que pisei em alguma coisa.

16 Comentários:

Blogger Joice Marino disse...

Rindo muito,Chico. Maravilha!
Não posso esperar para comentar esse. Vou falar aqui mesmo.
Adorei.
Divertido e genial porque transforma o que é de se lamentar, dando-nos a vingança do riso. E a escolha do modo falar é, precisamante, reveladora dessa mulher.
Acho que vou começar a consultar você para construir meus personagens. =)
Colocar a personalidade no discurso, para descrevê-la e ainda com o senso crítico do seu olhar sobre ela, embutido e de forma coerente? É um requinte, hein?
Grande beijo.

13 de novembro de 2007 às 13:17  
Anonymous Anônimo disse...

JoIce, você tocou lá na ferida. Não poderia ser diferente.

Aproveito para esclarecer: na composição dessa mulher há quatro mulheres diferentes.

Mas a ferida, a ferida é isto: todo riso ainda fundado na zombaria é um mau riso, um riso que envolve tristeza. Isso ficou muito claro no seu comentário quando você usou a expressão "o que é de se lamentar". Se é de se lamentar, envolve tristeza... Praticar a "vingança do riso", isso não é nada bom, ou ao menos não é o bastante.

Mas, enfim... Um pouco de pimenta não mata ninguém, e desde que ela não se torne o prato principal... Beleza. =)

Beijo grande!

13 de novembro de 2007 às 17:49  
Blogger Joice Marino disse...

É Chico, rir por vingança não é mesmo coisa boa e nem o bastante, concordo com você e também não poderia ser diferente. Aliás uso o termo vingança como coisa minha, ela não é presente no seu texto.
Pode tirar o olho, a vingança é minha! =)

A admiração pela composição do discurso da personagem me fez deixar escapar um outro ponto que acho importante. Muito mais do que a pequenez do meu prazer de poder rir do que, na verdade, me daria raiva.

O que acho ótimo neste pequeno conto é o patético que surge sem ser adjetivo de descrição. Ele não é uma sentença.
A conclusão que chego depois de "a ouvir falar" é que não quero ser essa mulher.
Longe de querer colocar uma utilidade na arte, oh não!
Mas a cegueira da vaidade pode afetar qualquer um. Há que vigiar o espírito, fiel e honestamente.

Beijo!

Bom, poderia elogiar a escolha do símbolo com os óculos, dando a mulher a possibilidade de dizer, pela sua própria boca, que ela não enxerga nada e outras coisinhas. Mas aí já seria minha obsessão com o estudo da criação e não quero correr o risco de entendiar você. Fiquemos no conteúdo, que é mais enriquecedor.

13 de novembro de 2007 às 18:57  
Anonymous Anônimo disse...

Será que a vingança é realmente "sua", Joice? Será que ela não está implicada no próprio texto?

E o mesmo não se aplicaria à "pequenez do riso"?

Quanto à "função pedagógica" do texto, é inegável que ela existe. E eu me arriscaria a dizer que é ela que justifica todos os aspectos negativos do texto (discutidos acima). Creio que pela arte "nela mesma" eu não o escreveria, e aliás é por isso que não me considero um artista. Me interessam os problemas e sobretudo os problemas éticos.

Por fim... Sim, os óculos perdidos se impuseram de imediato como a imagem mais direta da falta de visão da personagem, a "solução dramática" ideal. E é um privilégio enorme discutir essas questões com alguém do ramo (da criação). Não me entedia não, viu... Jamais!

Beijo!

13 de novembro de 2007 às 20:34  
Blogger fred girauta disse...

eu achei demais esse texto, embora tenha me sentido num mar de ambigüidades. mas como o sentido quase sempre não faz sentido, eu achei demais esse texto!

13 de novembro de 2007 às 21:10  
Blogger Joice Marino disse...

Bom, já que não lhe entedia vou falar mais uma coisa sobre a forma.
(ai, Jesus! Lá vem ela...)
=D

Ela diz: "eu sei das coisas" e "ouçam o que estou dizendo".
Há um estudo em psicanálise (ah, sim, sempre há um estudo em psicanálise!...eehhehe...mas acho que concordo com esse aqui).Bom, há um estudo sobre as coisas que afirmamos repetidamente. Oh, sim isso é óbvio que é revelador.Porém esse tipo de frase é muito característico de gente que sabe que o que está falando não é muito consistente, sabia disso? Então há a necessidade desta pessoa afirmar todo o tempo que sabe algo ou pedir para ser ouvida. No caso dessa sua mulher, mandar que a ouçam! Se eu for pensar em personagem, é perfeita a construção. Construir a fala de um personagem de maneira coerente é uma tarefa interessante. Gostei demais. Se fosse um texto de teatro, só nesta pequena fala o autor me daria indícios reveladores dessa mulher.Adoro isso. Posso até ouvir a voz dela falando e sei a maneira como mexe as mãos com aquele anelão de prata pura com uma pedra grande...etc...etc...

=)

BeIjo, ChIco.

13 de novembro de 2007 às 21:28  
Blogger -JÚLIA MOURA LOPES- disse...

:-)

reconheci a personagem!

beijo

13 de novembro de 2007 às 23:39  
Blogger Francisco Fuchs disse...

Girauta, sem sentido ou com excesso de sentido (ou nenhuma das alternativas acima), estou contente que tenha gostado. =)

Joice... Ah, já conversamos, pra que repetir? =)

Eu só queria que vocês soubessem como foi importante pra mim ter vocês por perto no último fim de semana.

Beijos.

14 de novembro de 2007 às 00:27  
Blogger Francisco Fuchs disse...

Júlia,

Quem sabe "ela" não se emenda, não é mesmo?

=)

Beijo.

14 de novembro de 2007 às 02:29  
Anonymous Anônimo disse...

Semi-ótico é quem precisa de óculos pra enxergar?
Sei bem o que é procurar os ósculos sem os óculos...
Maravilha, Fuchs... e deus me mantenha afastado dessa doutora aí... arre-égua.

14 de novembro de 2007 às 17:09  
Blogger Francisco Fuchs disse...

Hahahaha... "semi-ótico" foi um achado e tanto...

Aquele abraço!

14 de novembro de 2007 às 17:37  
Anonymous Anônimo disse...

Fuchs-fuchs,

Seu comentário aí sobre o riso-pequeno deve sair daqui e ganhar corpinho sarado e esculpido no front page.

E eu dou opinião, meiz... Ecoooo!

18 de novembro de 2007 às 05:06  
Blogger Francisco Fuchs disse...

Já está no front, meu caro!

http://pontocinza.blogspot.com/2006/12/em-toda-sua-maneira-de-viver-como-de.html

=]

18 de novembro de 2007 às 18:56  
Blogger TatiResinentti disse...

Ah não, eu queria ter escrito este texto!! rs

Adorei, Chico, mto bom msm! :D

Bjks!

23 de novembro de 2007 às 21:37  
Blogger Francisco Fuchs disse...

Tati! Que bom! =)

Beijocas!

24 de novembro de 2007 às 19:26  
Blogger Cecilia Cavalieri disse...

GENTE, ISSO É DEMAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIISSSS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


HÉLAS, DOCTORRESSSSSSSSEEEEEEEEE!!!!!!!!!

MIL BEIJOS!!!

AI AI, Q SAUDADE!

29 de janeiro de 2008 às 14:02  

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