9.1.08

a cultura e a morte - nova série (9)

Dizer que cultura é ação do homem sobre o homem para produzir o homem não significa que exista uma idéia prévia daquilo que se quer produzir - ou seja, do próprio homem. Nem mesmo sabemos se é de fato "o homem" que queremos produzir; afinal, talvez se trate mesmo de produzir outra coisa: o além-do-homem. Não há uma essência a realizar ou um modelo a reproduzir. Pensar a cultura não é pensar na produção de um resultado estipulado de antemão e desejado intencionalmente, mas na produção de um movimento (que se confunde com o próprio devir da cultura). Como disse Montaigne, "educar uma criança não é como encher um vaso, mas como acender uma fogueira."

Nesse sentido, o pensamento da cultura como movimento genérico de produção e autoprodução do homem é capaz de incorporar as mais sutis formas de ação, e talvez mesmo aquilo que os taoístas chamam de "ação pela não-ação", que não se confunde com a mera passividade. Por exemplo, ouvir, dar ouvidos, escutar, isso também faz parte da atividade genérica da cultura. E não deixa de ser irônico que existam hoje em dia autênticos "profissionais da escuta", já que o simples fato de termos desaprendido a escutar uns aos outros é mais um entre tantos sintomas da morte da cultura.

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