26.3.08

simulacros

Foram amar-se pela primeira vez em sua casa, depois de comerem sorvete com gérmem de trigo. Gostavam-se já. No melhor da coisa, um intenso cheiro de flores invadiu o quarto. Passado o ardor, foi naquilo que primeiro falaram. Tão gostoso, aquele cheiro. É uma presença boa, disse ela. Ele concordou, porém pensando no corpo que nele se enrolava. Ele era ali e nada mais. É uma presença boa, pensou.

No dia seguinte, sozinho, sentiu na madrugada um nítido cheiro de merda. Que merda!, pensou. Vinha do nada, como na noite anterior. E se existissem as coisas onde ele punha dúvida, presenças, entidades ou a cascudice que fosse? Se, condicional, existissem, aquele cheiro não havia de ser bom sinal. Que seja. Acendeu um incenso e foi dormir.

O barulho de móveis arrastados despertou-o na manhã seguinte. A faxineira falava sem parar, de modo que pôde ouvir sua cantilena em crescendo desde o corredor até a porta de seu quarto.

- Sua vizinha está cantando no banheiro. Sabonete cheiroso o dela, parece de fada. E o senhor está virando criança outra vez, que negócio é esse de não puxar a descarga?

10 Comentários:

Blogger Unknown disse...

É tão bonito se enganar as vezes. Acabamos por perceber coisas que sem "sinais", não perceberíamos.
Que bom que não foi o amor deles "uma merda".
Beijo, querido.

27 de março de 2008 às 11:45  
Anonymous Anônimo disse...

Não, o amor não, Louise!

Beijo!

27 de março de 2008 às 20:29  
Anonymous Anônimo disse...

Olá Francisco!
Sobre o teu trabalho, A noção de virtualidade em Bergson poder-me-ás dizer qual o link, porque precisarei de o referenciar!
Beijinhos
Alice

27 de março de 2008 às 23:31  
Blogger Francisco Fuchs disse...

Prontamente, Alice!

Esta é a página:

http://pontocinza.wordpress.com/bergson/

E este é o atalho para o arquivo:

http://pontocinza.files.wordpress.com/2007/01/nvb.pdf

Beijinhos e até sempre!

27 de março de 2008 às 23:43  
Anonymous Anônimo disse...

Ah afinal está aqui: http://pontocinza.files.wordpress.com/2007/01/nvb.pdf
Excelente este teu trabalho, depois entrarei em contacto contigo.
Beijinhos e muito obrigada
Alice

27 de março de 2008 às 23:45  
Anonymous Anônimo disse...

Coincidentes :) hehe
É ainda sobre a importância da IMAGEM...
Obrigada e até sempre
Alice

27 de março de 2008 às 23:49  
Blogger Francisco Fuchs disse...

Quando o encontro é bom, co-incidir é ótimo. =)

Obrigado, Alice, fico à espera de notícias suas.

Até sempre!

28 de março de 2008 às 06:34  
Blogger -JÚLIA MOURA LOPES- disse...

a verdade é que homem sempre pensa que a "merda" veio da parte da mulher, jamais viria dele!!!

esta veio mesmo de dentro dele. e tresandava. bem feito!

30 de março de 2008 às 13:18  
Blogger Francisco Fuchs disse...

Hahahaha, sim, seria mesmo bem feito!

Se ele fosse esse tipo de homem...

Mas o fato é que esse vínculo deriva de uma frase ambígua:

"Que merda!, pensou, e lembrou da noite anterior."

Já que não era minha intenção sugerir esse vínculo e já que você é a segunda pessoa a percebê-lo, lá vou eu refazer o texto. Obrigado!

Não custa lembrar que a heroína da história é a faxineira - que revela ou desvela as respectivas fontes dos simulacros.

Se é que não estamos a lidar com presenças, é claro. =)

30 de março de 2008 às 19:37  
Anonymous Anônimo disse...

rs Q privilégio de construção.

2 de abril de 2008 às 21:41  

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