13.7.08

Para acabar com o narcisismo de Barton

O filme mais genial dos irmãos Cohen, Barton Fink, é de uma sutileza assustadora. Barton é o escritor que deseja dar voz ao "homem comum". Suas falas sobre a escrita e a criação, ao longo de todo o filme, são admiráveis; porém, ao mesmo tempo, vamos nos dando conta de que o seu "homem comum" não passa uma abstração inventada para seu próprio gozo intelectual. E é dolorosamente cômico perceber que Barton discursa exaltadamente a respeito do "homem comum" para seu vizinho de quarto (que ele supõe ser um homem comum) sem lhe dar ouvidos por um momento sequer. Com alguma sorte concluiremos, ao terminar o filme, que o "homem comum" simplesmente não existe, que ele não passa de uma abstração ou de um ser de razão: tal como as idéias de equilíbrio, igualdade e tantas outras. E esta parece, de fato, ser a nossa sorte: passar de uma abstração a outra, de uma generalidade a outra, sem jamais tocar nos verdadeiros problemas. Chegar a tocar uma idéia (ou problema) é como misturar nosso corpo a outro num delírio de desejo. Mas nós não pensamos, apenas nos masturbamos com nossas pobres abstrações.


Adendo

Eu diria que Barton Fink é um dos filmes mais importantes já realizados. Não conheço outro que trabalhe essa temática e sobretudo com tanta propriedade. Barton não é um mau sujeito. Ele está cheio de boas intenções e realmente acredita no que faz. Mas ele está ligado apenas em suas próprias abstrações, e ao mesmo tempo desligado da vida. É o mal típico do intelectual, seja qual for sua formação (sim, filósofos também). Na verdade, todos nós somos, em alguma medida, intelectuais. Todos nós. É por isso que não podemos nos contentar com pouco e ficar no meio do caminho. Pensar pode ser algo vital, inteiramente conectado à vida e à vida das pessoas. Você já leu "O teatro e a cultura", introdução ao livro "O teatro e seu duplo", de Artaud? Aquilo não vale apenas para o teatro, mas para o pensamento em geral. Inclusive para a filosofia.

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