11.11.08


Não é preciso ir à China para ver a língua portuguesa ser maltratada. Por vezes, até quem deveria zelar por ela o faz: como esses que resolveram subtrair da palavra "idéia" o acento que já se pendurava ali antes do primeiro vagido de Platão. E é bastante comum vermos em cartazes de rua as mais bizarras sevícias à língua de Camões; a coisa já rendeu (e continua rendendo) muitos momentos de humor e eu até a acho divertida.

Mas eu não me sentiria à vontade publicando aqui a imagem de um desses erros colhidos em humildes barraquinhas de cachorro-quente. Afinal, se as pessoas que ali vendem seu pão de cada dia não manejam bem a nossa língua e não demonstram a menor preocupação com tais floreios, quem entre nós seria capaz de culpá-los? O que nós lhes demos para nos arrogar o direito de fazer semelhantes exigências? Essa espécie de zombaria me soa vã, preconceituosa e elitista. É o tipo de comportamento que se pode esperar de um entrevistador de TV, mas não de um pensador.

Mas e quando o erro estala no seio da burguesia - dessa mesma burguesia que, apesar de ter estudado em boas escolas, jamais se preocupou com a qualidade da educação oferecida ao pessoal do cachorro-quente? Que argumento eles poderiam invocar para obter nossa complacência? Nenhum. Tudo o que lhes resta é tentar pagar na mesma moeda e procurar erros em nossos escritos. Provavelmente encontrarão; mas terão que procurar bastante, e além disso sempre teremos na ponta da língua a resposta que eles merecem: nós escrevemos milhares de palavras, ao passo que eles conseguem errar feio redigindo uma simples lista.

A foto acima estava na minha cabeça há pelo menos dois anos, mas só agora pude realizá-la. Ela foi tirada no térreo do Plaza Shopping, em Niterói.

E já que o assunto é esse, não custa deixar aqui uma última tirada: se você não percebe que a nossa língua é mais maltratada do que uma personagem de Sade (só que publicamente, o que é ainda mais perverso), é porque você mesmo a maltrata!

8 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

oi Francisco :)

fiquei pensando se ali não houve uma tentativa de se "sofisticar" o cardápio, de "italianá-lo" para dar mais "credibilidade" [muitas aspas, tudo muito duvidoso, pois].
mas daí, como você sabe, deveriam ter escrito "caffè espresso" [e "cappuccino" também, oras!].

não estou dizendo que, dessa forma, o erro se faz perdoável.
a esta altura o café já esfriou e ficou amargo, infelizmente.

beijos de Florença,
Miyuki.

11 de novembro de 2008 às 16:04  
Blogger Francisco Fuchs disse...

Olá, Miyuki!

Pois é, se estivesse escrito apenas "espresso" eu até ficaria na dúvida. Mas "café espresso" pega mal pacas.

Que coincidência! Pois ontem eu comprei uma digital para brincar de clique (a foto acima foi justamente a primeirona). A lente não é Leica nem nada, mas eu estou adorando. Agora posso fazer que nem o Dylan e fotografar os fotógrafos. :)

Florença? Nem preciso perguntar se você está bem, não é mesmo?

Beijos, de Niterói. :D

11 de novembro de 2008 às 19:25  
Blogger fred girauta disse...

e como se não bastasse, ainda há o rebuscamento estrangeirista de "chantilly"...

13 de novembro de 2008 às 14:47  
Blogger Francisco Fuchs disse...

Eu teria até medo de tomar café ali...

E o nosso uísque? Cadê a prostituta gorda?

13 de novembro de 2008 às 19:40  
Blogger fred girauta disse...

ela me disse que neste fim de semana estaria livre, mas a vida de uma prostituta é muito dura...

14 de novembro de 2008 às 11:00  
Blogger Francisco Fuchs disse...

Diz que a gente paga o dobro!

15 de novembro de 2008 às 06:50  
Anonymous Anônimo disse...

No starbucks tbm escrevem com "S", mas não me lembro o que vem antes... hehehe

5 de dezembro de 2008 às 16:48  
Blogger Francisco Fuchs disse...

Se vier "café" tire uma foto, rs.

5 de dezembro de 2008 às 17:43  

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