20.9.11

to have, or not to have

Por esses dias soube de alguém que, sentindo-se incomodado por possuir bens, vendeu tudo e foi viajar. Vivi na rua por mais de um ano quando jovem, e sempre me interessam esses movimentos de desapego, desposse, desterritorialização. Hoje, porém, embora carregue nas costas uma talvez incômoda carga de livros, discos e filmes, não me imagino abandonando meus... bens? Mas que bens? Eu não tenho casa, carro, barco, jóias, obras de arte. Na verdade, eu não tenho "bem" algum, eu não sou em nenhuma hipótese um "possuidor de bens". Quando olho para um livro eu não vejo um livro, vejo um homem falando ou tentando falar comigo. Quando olho para um disco, eu não vejo um disco, vejo homens fazendo música. Mesmo meu computador não é um mero arranjo de partes materiais, mas uma estação de trabalho por meio da qual eu produzo a mim mesmo. E mesas, cama, estantes, armários, não passam de suportes, extensões do inevitável chão. Que dizer, então, de meu corpo? Tampouco ele é um "bem", tampouco ele me "pertence", tanto quanto qualquer outro pedaço de matéria do universo. Talvez "ter" seja, assim como "ser", um falso problema. Aquilo que teimosamente chamamos de "matéria" não se oferece a nós para ser possuída (ou abandonada), mas sim para ser, por assim dizer, espiritualizada.

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