4.8.14

As camisas na gaveta

Depois de trinta anos de vida sedentária e de uns tantos milhares de cigarros, decidiu que era hora de se mexer novamente. Nadar lhe parecia chato, andar de skate, extemporâneo; os bondes, infelizmente, já não tinham estribo; e como o futebol de botão dificilmente o faria entrar em forma novamente, só lhe restava mesmo, dentre as antigas paixões infantis, a alternativa de voltar a jogar tênis de mesa. Ou pingue-pongue mesmo, o que calhasse.

Montou sua raquete no bom e velho estilo japonês, comprou algumas bolinhas e, por que não, duas camisetas escuras da Yasaka. Estava pronto para voltar aos embates, e assim fez. Animou-se, cogitou até inscrever-se num treinamento sério para não perder o élan. Enfim, tendo recuperado um quinto da forma que ostentara aos quatorze anos, animou-se a estrear uma das camisetas Yasaka. Ao voltar da jogatina para casa, no entanto, foi abordado por um dos olheiros do tráfico.

– Tira essa camisa, maluco! Tá vendo alguém aqui de olho rasgado? Aqui não é Yakuza não! Aqui é Comando, mané!

Ele tinha bolas, mas o pessoal lá de cima tinha balas. Não era briga que valesse a pena. Continua praticando até hoje, e seu jogo cresce a cada dia; mas seu figurino tornou-se mais sóbrio e apropriado aos novos tempos.

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