9.8.14

Entreato: o TrueCrypt na imprensa brasileira

Antes de apresentar a segunda parte desta reportagem, farei um pequeno interlúdio. Quantas vezes o programa TrueCrypt foi mencionado na grande imprensa brasileira? Fiz uma pesquisa muito sumária, mas a amostra pode ser considerada significativa, já que os seis jornais de maior circulação no país encabeçam a lista. Eis os resultados.

Termo buscado: truecrypt

Super Notícia: uma referência
Folha de São Paulo: nenhum resultado
O Globo: uma referência
Estadão: uma referência
Extra: uma referência
Zero Hora: nenhum resultado
Correio Brasiliense: nenhum resultado

A grafia correta do programa é TrueCrypt, mas a pesquisa foi repetida com uma grafia incorreta (separando as duas partes que compõe o nome do software). Esse recurso permitiu que mais dois resultados fossem encontrados.

Termos buscados: true crypt

Super Notícia: nenhum resultado
Folha de São Paulo: uma referência
O Globo: nenhum resultado
Estadão: nenhum resultado
Extra: uma referência
Zero Hora: nenhum resultado
Correio Brasiliense: nenhum resultado

Durante anos o TrueCrypt foi (e, de acordo com Steve Gibson, continua sendo) uma das mais importantes ferramentas de proteção da privacidade. As principais razões desse sucesso são as seguintes: ele funciona nos mais usados sistemas operacionais (Windows, Linux e Mac); ele oferece criptografia robusta baseada em código aberto; e está acessível a qualquer um, pois é gratuito. Pode-se ter uma idéia da credibilidade conquistada por esse programa em artigos de revistas conceituadas como a PCWorld e em tutoriais da EFF (Electronic Frontier Foundation); e pode-se ter uma amostra de sua enorme popularidade observando os resultados da pesquisa abaixo.

Fonte: lifehacker

Entretanto, apesar da importância e popularidade do TrueCrypt no exterior, somente seis textos mencionam o software nas versões digitais dos cinco jornais de maior circulação no Brasil. Esse resultado demonstra, a meu ver, a que ponto a preocupação com a privacidade ainda é incipiente em nosso país. Entre nós ainda é prevalente aquela mentalidade provinciana de acordo com a qual quem tira uma foto mais íntima merece ser exposto aos olhos de todos; ou a visão obtusa segundo a qual apenas criminosos têm algo a "esconder". Mas as pessoas que dizem semelhantes sandices jamais publicariam na Internet seu imposto de renda, seu endereço ou a senha de seu cartão de crédito... Sim, os criminosos sempre têm algo (no caso, seus crimes) a esconder. Mas todos nós temos algo a esconder, e temos algo a esconder precisamente desses mesmos criminosos.

Obviamente, a defesa da privacidade não passa apenas pelo uso de ferramentas apropriadas. Em primeiro lugar é preciso trazer o problema à luz e começar a educar as pessoas para a era digital. Mais de uma adolescente brasileira já perdeu a vida apenas porque não pensou nas conseqüências da simples divulgação de um arquivo digital. Essas questões não podem ficar encerradas em fóruns especializados. É preciso que a discussão se estenda à grande imprensa. Mas se a imprensa não divulga e não ensina o uso das ferramentas apropriadas, ela não está cumprindo esse papel como deveria.

O quadro é ainda mais assustador quando pensamos que as ditas nações livres e democráticas estão, cada vez mais, adotando práticas totalitárias. Precisamos descobrir de que lado estamos – e elas também.


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