Carta a Dilma Rousseff
Prezada Dilma Rousseff,
Ainda guardo comigo meu broche do PT: não aquele de plástico barato, lançado depois, mas o antigo, o de alumínio, possivelmente cioso de sua origem metalúrgica.
Não que eu tenha me filiado ao PT. Jamais fui filiado a partido algum. Um acesso de bom senso, coisa rara porém providencial num adolescente de 17 anos, impediu que me filiasse, em 1979, ao PCB.
E se em 1981, ao entrar na Universidade, eu ainda tinha alguma veleidade política, ela dissipou-se por completo assim que participei de minha primeira (e última) reunião do diretório acadêmico do curso de História. Era óbvio que nenhuma daquelas pessoas tinha qualquer potencialidade para produzir o "novo homem" que era objeto de meu interesse. E nessa época eu já sabia que uma sociedade nova só poderia surgir a partir do surgimento de um novo homem – e não o inverso.
Hoje, ao saber que figuras ilustres da nossa direita foram filiadas ao PT ou militaram no PCB durante anos a fio, não posso impedir-me de sentir certo orgulho pela precocidade de minha visão. Esse afastamento prematuro poupou-me da decepção. Sequer tive tempo ou envolvimento suficientes para tornar-me ressentido com a esquerda. Simplesmente deixei-a atrás de mim, e a uma distância considerável, guiado por essa mesma disciplina que você crê ser inútil para os nossos jovens: a Filosofia.
Entretanto, enquanto eu me esforçava para me orientar no pensamento, continuava existindo, lá fora, a política, a pequena e mesquinha política de todos os dias. Havia que votar e eu, durante anos, votei na esquerda achando que fazia o que era correto. Muitos desses votos foram para o PT.
Seus quase quatro anos de mandato, entretanto, bastaram para me convencer de que votar no PT é um enorme equívoco.
Suas decisões econômicas foram desastrosas. Mas o que realmente me embrulha o estômago é a miopia de sua visão política. Para você existem "amigos" e "inimigos"; seus amigos, por mais estúpidos que sejam, são os "bons"; e seus "inimigos" são a perene encarnação do mal absoluto. Há o preto e o branco: não há matizes, não há tons de cinza, não há acertos e erros pontuais. Nesse sentido, fazer uma campanha canalha contra Marina Silva ou condenar os Estados Unidos quando estes jogam bombas em cima de genocidas faz parte de uma única e mesma estratégia. Não me espanta que você ache a Filosofia inútil. Tudo o que você sabe fazer é firmar posições, ou seja, marcar territórios. Não lhe interessam os jogos do pensamento; só os jogos do poder.
E por falar em "preto e branco", suas declarações sobre a "elite branca" (precedidas, é bem verdade, pelas declarações de Lula sobre a "gente branca de olhos azuis") me fazem lembrar das palavras do filósofo: "Não freqüentar ninguém que esteja implicado nessa burla despudorada das raças."
Só que quem usa sapatos Louis Vuitton é você. Pensando bem, faz todo o sentido do mundo. E eu, que talvez ainda não tenha me curado de minha burrice esquerdista, vou votar em Marina Silva para presidente. Com todos os tons de cinza que isso implica.
Ainda guardo comigo meu broche do PT: não aquele de plástico barato, lançado depois, mas o antigo, o de alumínio, possivelmente cioso de sua origem metalúrgica.
Não que eu tenha me filiado ao PT. Jamais fui filiado a partido algum. Um acesso de bom senso, coisa rara porém providencial num adolescente de 17 anos, impediu que me filiasse, em 1979, ao PCB.
E se em 1981, ao entrar na Universidade, eu ainda tinha alguma veleidade política, ela dissipou-se por completo assim que participei de minha primeira (e última) reunião do diretório acadêmico do curso de História. Era óbvio que nenhuma daquelas pessoas tinha qualquer potencialidade para produzir o "novo homem" que era objeto de meu interesse. E nessa época eu já sabia que uma sociedade nova só poderia surgir a partir do surgimento de um novo homem – e não o inverso.
Hoje, ao saber que figuras ilustres da nossa direita foram filiadas ao PT ou militaram no PCB durante anos a fio, não posso impedir-me de sentir certo orgulho pela precocidade de minha visão. Esse afastamento prematuro poupou-me da decepção. Sequer tive tempo ou envolvimento suficientes para tornar-me ressentido com a esquerda. Simplesmente deixei-a atrás de mim, e a uma distância considerável, guiado por essa mesma disciplina que você crê ser inútil para os nossos jovens: a Filosofia.
Entretanto, enquanto eu me esforçava para me orientar no pensamento, continuava existindo, lá fora, a política, a pequena e mesquinha política de todos os dias. Havia que votar e eu, durante anos, votei na esquerda achando que fazia o que era correto. Muitos desses votos foram para o PT.
Seus quase quatro anos de mandato, entretanto, bastaram para me convencer de que votar no PT é um enorme equívoco.
Suas decisões econômicas foram desastrosas. Mas o que realmente me embrulha o estômago é a miopia de sua visão política. Para você existem "amigos" e "inimigos"; seus amigos, por mais estúpidos que sejam, são os "bons"; e seus "inimigos" são a perene encarnação do mal absoluto. Há o preto e o branco: não há matizes, não há tons de cinza, não há acertos e erros pontuais. Nesse sentido, fazer uma campanha canalha contra Marina Silva ou condenar os Estados Unidos quando estes jogam bombas em cima de genocidas faz parte de uma única e mesma estratégia. Não me espanta que você ache a Filosofia inútil. Tudo o que você sabe fazer é firmar posições, ou seja, marcar territórios. Não lhe interessam os jogos do pensamento; só os jogos do poder.
E por falar em "preto e branco", suas declarações sobre a "elite branca" (precedidas, é bem verdade, pelas declarações de Lula sobre a "gente branca de olhos azuis") me fazem lembrar das palavras do filósofo: "Não freqüentar ninguém que esteja implicado nessa burla despudorada das raças."
Só que quem usa sapatos Louis Vuitton é você. Pensando bem, faz todo o sentido do mundo. E eu, que talvez ainda não tenha me curado de minha burrice esquerdista, vou votar em Marina Silva para presidente. Com todos os tons de cinza que isso implica.
1 Comentários:
Onde comprar esse broche?
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