30.4.15

Por que o autoritarismo populista quer proteger o povo do conhecimento?

Os progressistas são uns amores: preferem um povo de operários a um povo de pensadores.

Os conservadores também são uns amores: querem, entre outras coisas, desinformar os consumidores. 

Vejam esta pérola do PL 4148/2008, do deputado Luis Carlos Heinze (PP/RS):
"Entendemos que a indicação da espécie doadora do gene não traz benefício ao consumidor, uma vez que de difícil compreensão (nomes científicos), contrariando, desse modo, o disposto nos artigos 6º e 31 do Código de Defesa do Consumidor, que exige o fornecimento ao consumidor de informações claras e que não o levem a erro ou falso entendimento."
A tese acima não se sustenta nem mesmo se aceitarmos sua duvidosa premissa (a de que nomes científicos são de "difícil compreensão").

Afinal, há um abismo entre exigir "clareza na informação" e exigir que essa mesma informação seja de "fácil compreensão". Confundir o "difícil" e o "obscuro" (na passagem da premissa à conclusão) é, claramente, um procedimento falacioso.

Em outras palavras: mesmo que eu fosse capaz de explicar física quântica como um anjo (fornecendo, portanto, somente "informações claras") eu não conseguiria fazer da física quântica uma matéria de "fácil compreensão". Uma coisa nada tem a ver com a outra.

Por outro lado, o que será mais produtivo para educar um povo: colocá-lo à prova com informações que ele talvez seja forçado a pesquisar, ou poupá-lo a priori, dele escamoteando tudo que imaginamos que não será capaz de compreender?

Por fim, será que um deputado que tão facilmente renuncia à lógica em nome da retórica está realmente capacitado para avaliar a competência cognitiva dos consumidores brasileiros? 

* * *

Amanhã, 1º de maio, farei uma postagem especial sobre um tema caro ao trabalhador intelectual: os direitos autorais. É uma idéia capaz de transformar (para melhor) a legislação sobre esse tema em todo o mundo. O que não  quer dizer, obviamente, que isso irá acontecer...

* * * 

Que tal aproveitar o feriado de manhã para fazer um pequeno exercício de lógica? Leia a matéria FHC e a maconha, publicada hoje na Folha de São Paulo, e mostre por que ela é inteiramente falaciosa. Eu mesmo farei esse exercício e o publicarei aqui em dois ou três dias.


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