10.2.16

Hitler goes bananas (parte 3)


Embora tenha citado o santo, o cientista político João Pereira Coutinho não chegou a citar o milagre e antecipar o argumento que, desde o início, eu havia reservado para a terceira e última parte desta série. Pura sorte.

O nome do santo, neste caso, é Joseph Arthur de Gobineau, também conhecido como Conde de Gobineau. Autor de um romance bastante elogiado, este senhor passou à história, sobretudo, por ter escrito um livro chamado Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas.

Pois bem. Embora Gobineau tenha sido (a contragosto) embaixador no Rio de Janeiro e mantido relações com D. Pedro II, seu livro mais célebre não foi (até onde sei) traduzido para o português. Mas... e se isso ocorresse? Depois do precedente de Minha Luta, o que faria a justiça brasileira diante de um livro que afirma a superioridade da "raça ariana" e estigmatiza a miscigenação como "decadência"?

Não restariam muitas alternativas para uma justiça que desejasse manter-se coerente em suas decisões. Se é preciso proibir a circulação de todos os discursos racistas, incluindo aqueles que permitem compreender o surgimento e o desenrolar histórico do próprio racismo, então Gobineau também teria de ser proibido; e se é preciso proibir todo e qualquer discurso que tenha historicamente conduzido ao genocídio, à "morte de milhões de pessoas inocentes", então outros tantos livros teriam de ser igualmente proibidos. Mais alguns passos nessa direção e... começaríamos a queimar livros em grandes fogueiras?


Segundo as duras palavras de Coutinho, "a decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro é um insulto à inteligência dos brasileiros e um atestado de atraso intelectual do país." E agora? Quem se atreverá a dizer que nosso amigo de além-mar não tem razão?


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