4.12.16

cultura e política (xB27a)

Esqueça (ou, filosoficamente, ponha entre parênteses) seus sentimentos em relação aos personagens que irei mencionar e faça um esforço para compreender o que eu vou dizer. É bastante simples, não é nada complicado.

Lula foi a Cuba prestar suas últimas homenagens a Fidel Castro e disse o seguinte: "Estou triste, porque se foi o maior homem do século 20".¹

Insisto: pouco importa a suposta veracidade ou falsidade dessa declaração. Pouco importa sua opinião a respeito de Lula, de Cuba ou de Fidel. É em outro nível que devemos buscar aquilo que (a meu ver) realmente interessa.

Um século é tempo suficiente para que muitos "grandes homens" se produzam. Durante o século passado, um deles formulou a teoria da relatividade; outros, a física quântica; outro descobriu a penicilina; outro, a estrutura em dupla hélice do ADN; e mesmo que nos limitássemos a citar "grandes homens" (e mulheres) da ciência e da tecnologia, faltaria ainda mencionar um bom punhado de grandes filósofos e de grandes artistas. Todos fizeram de suas vidas um dom, uma dádiva, tornando a vida da humanidade mais rica, mais intensa, mais digna de ser vivida; e, por vezes, eles salvaram diretamente as vidas de milhões, como no caso da penicilina.

Esse é o plano da Cultura: homens que tocam suas vidas de todos os dias, plantando e colhendo, amassando o pão, escrevendo equações e partituras. Nesse plano, pode até mesmo soar artificial a divisão entre "grandes" e "pequenos": pois sem equações e partituras a vida mal valerá a pena, mas sem pão não haverá equações ou partituras.

Para Lula, no entanto, o "maior" homem do século XX foi um dos seus: um político.



1. Em Cuba, Lula diz que Fidel foi o 'maior homem do século 20'. Folha de São Paulo, 3/12/2016.


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