1.6.17

Crise política 1: o double-bind

Obras superfaturadas e aditivos sem fim, financiamentos fraudulentos, perdões de dívidas e multas de empresas privadas, desvios gigantescos em empresas estatais e fundos de pensão, legislações capciosas elaboradas em causa própria, hermenêuticas casuísticas, negociatas de toda ordem: agora sabemos, se já não sabíamos, como se tem feito política no Brasil.

Diante desse quadro espantoso, é impossível deixar de perguntar: será que as várias quadrilhas que estiveram conduzindo o país desse modo deixariam de cometer justamente o crime perfeito, impossível de ser auditado e investigado, o "crime dos crimes" que garantiria a manutenção dessas mesmas quadrilhas no poder?

Não é teoria da conspiração. É, diante das atuais circunstâncias, uma dúvida mais do que razoável. A rigor, um sistema de votação como o nosso sequer deveria existir. E não existe mesmo: a não ser aqui.

É demasiadamente irônico que, justamente no momento em que aprendemos tanto sobre o funcionamento comezinho da política brasileira, intelectuais e meios de comunicação estejam repetindo incessantemente que não há solução fora da política. É mais ou menos como dizer que precisamos confiar no nosso sistema eleitoral e ao mesmo tempo nos mandarem (sim, mandarem) votar nas máquinas de votação menos confiáveis do mundo. É difícil não chegar à conclusão de que os brasileiros estão sendo vítimas de double-bind.


P.S. Mais de um mês depois da publicação desta postagem, foi publicado na Folha de São Paulo este artigo de Ronaldo Lemos: "Segurança de urna digital acende luz amarela no Brasil". 

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