13.7.17

O formol nosso de cada dia

As litografias de uma artista que conheço começaram a apresentar mofo. Seu professor de desenho, aliás um dos maiores artistas brasileiros, recomendou-lhe, do alto de seus 87 anos, um tratamento com formol embebido em papel manteiga ou vegetal. Depois de secas, essas folhas serão colocadas em cima dos trabalhos comprometidos e abafadas com plástico ou num lugar fechado. Problema resolvido.

Só que não. Mesmo em casas especializadas na venda de produtos químicos, a venda de formol é proibida para pessoas físicas, em razão, ao que eu ouvi dizer, da atividade de algumas cabeleireiras malucas que o usam nas cabeças de suas clientes.

E agora? E agora nada. É muito fácil comprar formol na ilegalidade, e tanto é assim que as tais cabeleireiras continuam a trabalhar com ele.

O problema é que, ao invés de concentrar-se o armazenamento da substância, que é realmente perigosa, em alguns poucos pontos de venda profissionais, temos agora centenas ou talvez milhares de vendedores clandestinos que armazenam o produto em suas casas. O risco é enorme, sobretudo para crianças e animais domésticos. Como muitas dessas vendas acontecem online, carteiros e porteiros também passam a correr riscos.

Se a venda fosse simplesmente regulamentada (por exemplo, com a identificação dos compradores), a situação seria outra. Mas não. É preciso proibir. E, com a proibição, surge uma nova oportunidade de negócio.

Assim "cuida" o Estado de seus pobres cidadãos, que, em vez de receberem educação, são mantidos num perpétuo estado de menoridade, sempre sendo protegidos de si mesmos. E a coisa termina assim: ao invés de diminuir-se o risco, faz-se com que ele seja aumentado; aqueles que precisam do produto para fins legítimos caem na clandestinidade; aqueles que o usam para fins ilegítimos não sofrem nenhum óbice em sua atividade; e as obras de arte continuam mofadas, sofrendo danos progressivos, enquanto os artistas não encontram um traficante que lhes venda a substância proibida.

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