18.8.17

Nietzsche, Marx e Freud

Tendo Spinoza como precursor, Nietzsche, Marx e Freud questionaram a soberania da consciência. Se quisermos considerar o plano da vida (e não apenas o plano do homem), podemos acrescentar Darwin a essa lista.

Entre eles, o "caso" mais complexo é o de Nietzsche. Feita a ressalva, ponhamos esse pormenor "entre parênteses" e tomemos apenas o que esses pensadores têm em comum: a descoberta de uma dimensão inconsciente. Essa descoberta prolongou-se no estruturalismo, que renovou a lingüística, a antropologia e a psicanálise.

Farei aqui umas poucas perguntas, a título de provocação. Se o neurótico é um joguete de seu inconsciente, "quem" decide ir ao psicanalista ou, ao contrário, decide continuar repetindo seu sintoma?

Se o explorado é um joguete de um determinado modo de produção e de uma determinada estrutura de classes, "quem" decide entrar para o partidão, ou, ao contrário, assumir a defesa da ordem existente?

Se o homem é um produto da aliança das forças reativas com a vontade de nada, "quem" logra produzir a transmutação (aliança das forças ativas e da vontade afirmativa) para superar o homem?

Se, como querem Deleuze e Guattari, o inconsciente é produtivo (e não, como em Freud, uma peça de teatro), "quem" dirige a produção?

O que está em questão aqui é o velho e sempre renovado (mas também sempre questionado) conceito de liberdade. Nada aqui é simples ou fácil, pois é preciso dar um passo à frente (e não um passo atrás, reabilitando a velha consciência soberana). Mas algo me diz que, sem reintroduzir (ainda uma vez) os conceitos de liberdade e de responsabilidade no jogo filosófico, não teremos sequer uma chance de evitar o desastre.

* * *

Dizer que "a sociedade cria monstros" é negar a liberdade dos indivíduos que compõem a sociedade em questão, é subtrair deles qualquer responsabilidade que poderiam ter na produção de si mesmos, é retirar-lhes todos os resquícios de dignidade.

Se esse raciocínio é, por princípio, ruim, suas conseqüências são ainda piores. Afinal, se é "a sociedade" que "cria monstros", então bastará mudar a sociedade para, automaticamente, produzir um novo homem. Não seria essa a essência do totalitarismo? 

Nunca faltarão ideólogos, sejam eles de esquerda, de direita ou do que quiserem, para dizer que as boas regras de seus livrinhos criarão uma nova sociedade, que por sua vez criará um homem novo. Não podemos impedir o surgimento desse tipo de coisa. Mas está em nosso poder deixarmos de ser  retardados que preferem atribuir a outrem a responsabilidade pelo seu próprio retardamento.


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