18.3.19

Welcome to the machine


Em 25 anos na capital, Marcello morou em alguns dos melhores endereços da cidade, como a Asa Sul. Introvertido, nunca foi de fazer amigos. Em depoimentos à polícia, alegou ter sofrido bullying na escola e, desde cedo, odiar mulheres. Detestava ser derrotado em qualquer brincadeira para uma oponente do gênero feminino. De pele branca, também nunca gostou de negros, LGBTs, nordestinos e políticos e militantes de esquerda.


Nunca um órgão de imprensa sério publicaria: "Nordestino, Fulano nunca gostou de LGBT's." Afinal, se Fulano é homofóbico, isso nada tem a ver com sua condição de nordestino.

Do mesmo modo, um jornalista sério jamais escreveria: "Gay, Beltrano nunca gostou de negros". Afinal, se Beltrano é racista, isso nada tem a ver com sua condição de LGBT.

Mais um exemplo? O que vocês diriam se lessem: "De pele negra, Sicrano nunca gostou de judeus"? Não ficariam imediatamente indignados, e não apenas com o desprezível anti-semitismo de Sicrano, mas com a odiosa alusão à cor de sua pele?

O mesmo não se aplica, infelizmente, aos chamados "brancos". Nesse caso, a cor da pele é mencionada, passando a valer como um princípio explicativo. O sujeito não é homofóbico, racista e sexista porque tem vários parafusos a menos, mas porque é branco. É precisamente isso que a redação do texto citado sugere. "De pele branca, também nunca gostou..."

Haverá algum propósito nessa manifestação pública de racismo? Não creio. Haverá alguma justificativa jornalística? Também não, pois o leitor já conhecia a cor da pele do indivíduo, que aparece na foto que ilustra a matéria.

Não há propósito nem justificativa, mas sempre haverá conseqüências. É muito difícil mensurar o ódio que uma manifestação de racismo publicada em um grande meio de comunicação é capaz de criar. E que razão teríamos para brincar com essas coisas, ainda mais num momento como este?

Esse é o tipo de manifestação que se espera ver numa rede social racista, misógina e homofóbica como a que foi criada pelo cidadão brasiliense que foi objeto da matéria. Vê-la publicada no site do Correio Braziliense, que, se não me equivoco, é o jornal mais importante da capital do país, dá uma dimensão verdadeiramente nacional à terrível mensagem que acreditávamos estar confinada à Dark web:

"A máquina de ódio continua a operar."


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