16.6.19

Meu último jogo de futebol

Os donos do futebol estão confiantes no produto que têm em mãos. O futebol movimenta uma fortuna, dos ingressos à venda de jogadores, dos direitos de imagem às bolsas de apostas.

Como eu disse quando da introdução do VAR na Copa de 2018, a manipulação de resultados, sobretudo em jogos internacionais, ganhou um novo patamar: uma espécie de última instância praticamente anônima, pois os árbitros de vídeo jamais dão as caras, dentro de campo e mesmo fora dele.

O jogo Austrália 3 x 2 Brasil (realizado em 13 de junho) foi exemplar. O terceiro gol australiano, corretamente anulado pela árbitra, foi validado por insistência do VAR. A jogadora australiana impedida era a única jogadora adversária na área do Brasil, subiu para disputar a bola com as duas zagueiras brasileiras, e mesmo assim os árbitros do VAR conseguiram convencer a árbitra do jogo que a australiana não havia "participado do lance".

Depois os árbitros do VAR decidiram ignorar um pênalti claro a favor do Brasil, e desta vez sequer convocaram a árbitra de campo para rever a jogada. Os meios de comunicação que consultei não fazem nenhuma referência ao lance. É como se jamais houvesse existido.

Não estou dizendo que o Brasil merecia vencer o jogo, até porque não merecia. Eu ficaria contente com um empate, e não lamentaria uma derrota digna. Mas o que testemunhei me fez tomar uma decisão radical: nunca mais irei perder meu tempo com futebol. A não ser, quem sabe, jogando: desde que não haja VAR, é claro.

A declaração de Cristiane (que não fez nenhuma referência à arbitragem) na entrevista após o jogo foi profissional e exemplar. O segundo gol do Brasil foi um dos mais belos que já vi. Você viu? Tamires deu uma caneta na adversária e um passe em profundidade para Debinha, que fez um cruzamento preciso para Cristiane, que cabeceou com consciência no cantinho do gol. São momentos como esse que fazem a coisa toda valer a pena.

O problema é que, no meu caso, o desconforto ético já superou (em muito) o prazer estético. Em duas horas dá para fazer muita coisa produtiva: ler, escrever, conversar, assistir a um bom filme e todos os eteceteras do mundo. Talvez você ainda tenha muito tempo pela frente, mas meu estoque de horas está se esgotando e eu resolvi não perder mais tempo assistindo a espetáculos que me trazem mais tristeza do que alegria. Conseguirei cumprir minha determinação? Veremos. Já passei no primeiro teste: troquei a estréia do Brasil na Copa América por dois episódios da extraordinária série Chernobyl. Você viu?


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