26.4.07

estúpido cúpido

A utilidade e o prazer definem a vida do homem médio. Ele vive nos limites estreitos do trabalho e do lazer, da produção e do consumo. Em geral, a utilidade é o meio e o prazer é o fim: trabalhar para obter dinheiro (e poder), e em seguida investir na obtenção de prazer. O corpo e a alma do homem médio estão perenemente articulados a uma rede de funcionalidades sensório-motoras, a ponto de poder-se dizer que o homem médio é um filme de ação com uma boa gozada no final.

É possível inclusive brincar com esses conceitos e dizer que a "direita" é preponderantemente ligada à utilidade, ao passo que a "esquerda" é preponderantemente ligada ao prazer: para uns, o sentido da vida é construir um império; para outros, o sentido da vida é gozar e deixar gozar (não me refiro, evidentemente, à esquerda que está mais preocupada com a construção do seu império do que com a "felicidade" das pessoas.) Mas esquerda e direita seriam na verdade as duas faces de uma mesma moeda ou as duas metades do mediano.

Fazer uma crítica a esse binômio não significa desqualificar a utilidade e o prazer - e, por extensão, depreciar o homem médio. Que venha o útil, que venha o prazer: o ponto não é esse. O ponto é que uma vida reduzida à utilidade e ao prazer é uma vida nela mesma diminuída, depreciada, muito aquém das possibilidades da Vida. O ponto é que as mais altas intensidades, no corpo e na alma, remetem a uma dimensão que está para além do útil e do prazer. E ainda que o homem médio seja de fato um estúpido cúpido, um pensador não pode jamais contentar-se com a mera zombaria, com a mera derrisão. Ao contrário, trata-se de convidar os homens médios para uma insólita viagem ao reino das intensidades puras antes que eles exterminem a própria humanidade em sua interminável obsessão pela utilidade e pelo prazer.

19.4.07

A democracia representativa é a primeira infância da democracia moderna.

9.4.07

Falou Fulano, falou Beltrano (e muito bem), falou o Ministro das Comunicações, falou o Ministro da Cultura. O suco, um tanto aguado, matou a sede; os bolos não estavam ruins. Mas o encantamento que enche o peito, esse veio de Portinari, e da japonesinha que lhe sorriu do elevador que descia, sem ele. Chovia lá fora. Os ministros vão passar, a chuva também, e até a japonesinha. Já a moça de olhar perdido, a de Portinari, o negro entornando a moringa, as mãos entrelaçadas, tudo isso é de retorno.

8.4.07

Vendo barato
caras idéias;
aliás, dou:
pode ficar.
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