21.7.14

A piada do sofá

De acordo com notícias veiculadas pela Folha de São Paulo e pelo O Globo, ativistas queriam incendiar o prédio da Câmara do Rio.

Lembrei-me imediatamente da piada do sofá, na qual o marido, tendo flagrado a mulher com outro no sofá da sala, resolve tomar uma providência radical: botar fogo no sofá.

Será que também os nossos ativistas estão a soldo da Odebrecht e de outras tantas construtoras?


18.7.14

Zico e Maradona

E assim, como quem não quer nada, acabei escrevendo várias postagens sobre futebol. Borges não me perdoaria; mas eu não peço desculpas e não me lamento. Quem resistiria a uma Copa do Mundo em seu próprio país, especialmente num país que foi outrora o "país do futebol"?

Mas antes de fazer silêncio sobre o tema, quero compartilhar aqui uma descoberta. Como sabemos, Zico e Maradona se enfrentaram quatro vezes:

02/08/1979 – Brasil 2 x 1 Argentina – Maracanã (Brasil)
15/09/1981 – Flamengo 2 x 0 Boca Juniors – Maracanã (Brasil)
02/07/1982 – Brasil 3 x 1 Argentina – Sarrià (Espanha)
06/01/1985 – Napoli 4 x 3 Udinese – Napoli (Itália)


Zico levou a melhor em todas, menos na última partida. E sabem o que eu descobri? Que nesse único jogo em que Maradona foi vencedor, ele fez um gol... com a mão. O próprio jogador argentino contou essa história:

"La verdad que nunca me arrepentí de haber marcado ese tanto con la mano, e inclusive hice otro parecido jugando para el Nápoles contra Udinese en la Liga italiana. Hasta el brasileño Zico, que jugaba para ellos, me preguntó si no me parecía mal, y yo le respondí que para nada", comentó. (Fonte: 20minutos.es)

Conclusão: Maradona, que marcou 345 gols em sua carreira, perdeu todas as partidas que jogou contra Zico, que marcou 812 gols. Todas menos uma, na Itália, na qual ele fez um gol com a mão... E los hermanos ainda querem compará-lo a Pelé? É muita cara de pau...


"La verdad que nunca me arrepentí de haber marcado ese tanto con la mano, e inclusive hice otro parecido jugando para el Nápoles contra Udinese en la Liga italiana. Hasta el brasileño Zico, que jugaba para ellos, me preguntó si no me parecía mal, y yo le respondí que para nada", comentó.

Ver más en: http://www.20minutos.es/deportes/noticia/maradona-mano-dios-43169/0/#xtor=AD-15&xts=467263
"La verdad que nunca me arrepentí de haber marcado ese tanto con la mano, e inclusive hice otro parecido jugando para el Nápoles contra Udinese en la Liga italiana. Hasta el brasileño Zico, que jugaba para ellos, me preguntó si no me parecía mal, y yo le respondí que para nada", comentó.

Ver más en: http://www.20minutos.es/deportes/noticia/maradona-mano-dios-43169/0/#xtor=AD-15&xts=467263

13.7.14

Dói, dói, dói... Deutschland!

Minha sugestão para o grito de guerra dos brasileiros hoje, no Maracanã.

9.7.14

7 = 7 x 1

"Papai, por favor, peça para os alemães pararem de fazer gol" (Valentina, 7 anos de idade)

"Colhemos o que plantamos" (Miroslav Klose)

8.7.14

Neymar, Zúñiga, o joelhaço e as ambigüidades da linguagem

Fiquei sabendo que Zúñiga está sendo alvo de ataques rancorosos por parte de brasileiros indignados com o joelhaço que tirou Neymar da Copa. Os ataques incluem ofensas racistas e alguns deles envolvem até mesmo sua filha, que é apenas uma criança. É claro que eu, como brasileiro e principalmente como homem, sinto uma profunda vergonha diante de tudo isso. Zúñiga deveria ter sido punido pela FIFA, e severamente, pela entrada maldosa que colocou em risco a carreira e a integridade física de Neymar. Mas se os brasileiros têm todo o direito de insultá-lo, deveriam, ao mesmo tempo, ter o cuidado de não ultrapassar determinados limites. Até mesmo o xingamento é uma arte.

Mas não é sobre isso que quero falar. Ontem a Folha de São Paulo publicou um texto do jornalista argentino Mariano Olsen, que está radicado em Bogotá há dez anos. Como veremos, trata-se de um texto que ofende de variadas maneiras a inteligência do leitor. Primeiramente, ao afirmar que
"as imagens de televisão não deixam dúvidas da intenção do defensor da Colômbia quando seu joelho bateu (sic) nas costas do craque brasileiro: disputar a bola num momento chave do jogo."
Ora, o que as imagens mostram é precisamente o contrário. De acordo com as leis da física, nesse ponto confirmadas, aliás, pelo mais rasteiro senso comum, é impossível usar o joelho para atravessar o corpo de um homem de modo a atingir uma bola que está se movimentando do outro lado desse corpo. A não ser, claro, que esse joelho se movesse com a velocidade de um carro de corrida ou de um avião. Assim, é forçoso admitir que Zúñiga, sabendo muito bem que não conseguiria atravessar o corpo do jogador brasileiro para alcançar a bola, quis atingir as costas de Neymar. Até que ponto ele teve a intenção de machucá-lo, ou mesmo lesioná-lo, é algo que apenas o próprio Zúñiga sabe. Tudo o que podemos afirmar com segurança é que Zúñiga atingiu Neymar pelas costas (ou seja, sem chance de defesa) e deliberadamente. Inversamente, também é possível afirmar, com a mesma segurança, que seu joelho não "bateu" casualmente nas costas do brasileiro numa "disputa de bola".

Depois de afirmar uma distorcida versão dos fatos contestada não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, o bravo Sr. Olsen passa ao ataque e, logo na seqüência do texto acima, afirma que
"Pensar que Zúñiga machucou Neymar de maneira fria e calculista é mostrar um nanismo mental preocupante."
Pois bem: dizer que Zúñiga não quis machucar o craque de "maneira fria e calculista" equivale a dizer que ele não teve a intenção premeditada de quebrar uma das vértebras de Neymar? Ou equivale a dizer que ele não teve a intenção deliberada de enfiar-lhe o joelho nas costas usando todo o peso de seu corpo? O texto não deixa isso claro, e o faz de propósito. O que o jornalista deseja é que passemos insensivelmente da primeira hipótese, que é plausível, para a segunda, que é absurda. Eu mesmo me recuso a acreditar que o jogador colombiano seja um psicopata capaz de tentar deixar um adversário paraplégico durante um simples jogo de futebol, por mais importante que este seja. No entanto, também me recuso a acreditar que alguém imagine que possa usar todo o peso de seu corpo (72 kg) para dar uma joelhada nas costas de uma pessoa bem mais leve (64 kg) sem lhe causar dano algum. O truque verbal do jornalista argentino é muito claro: ao negar que Zúñiga tenha cometido um crime premeditado, ele pretende negar que o defensor tenha cometido um crime doloso.

Não satisfeito com a distorção de fatos que foram gravados em vídeo e que permanecem à vista de todos, o Sr. Olsen ofenderá nossa inteligência mais uma vez, e de maneira ainda mais grave. O jornalista afirmou que Zúñiga "joga limpo" e sempre teve uma "conduta irrepreensível" ao longo dos 14 anos de sua carreira, e que, portanto, não poderia ter tido a intenção de machucar Neymar. Como eu já disse, apenas Zúñiga sabe o que ele queria ao aplicar o joelhaço. Ninguém além dele o sabe, e isso inclui o Sr. Olsen, que mui provavelmente não compartilha telepaticamente os pensamentos e as intenções do jogador. Mas esse ainda não é o ponto essencial. Se eu fosse acusado de assassinato e meu advogado declarasse que eu não poderia ter cometido o crime porque sou um cidadão pacato que jamais matou alguém anteriormente, eu o dispensaria imediatamente. Esse argumento não ofende apenas o leitor, mas a própria lógica. Se para cometer um crime fosse necessário ter uma vida criminosa pregressa, não existiriam réus primários. Aliás, nem mesmo haveria crimes, polícia, tribunais. Viveríamos no Éden.

Entretanto, tudo (ou quase tudo) tem sua primeira vez, não é mesmo, Sr. Olsen? E até mesmo uma segunda, se considerarmos criminosa a sola de Zúñiga no joelho de Hulk. Em resumo, não é o comportamento anterior do colombiano que está em questão, mas esta sua ação singular: o joelhaço.

Deixei intencionalmente para depois a análise das primeiras linhas do texto. Vamos a elas. Obviamente, como diz o jornalista, Zúñiga não é um "criminoso de guerra" ou um "assassino em série". Só que isso é um truísmo, já que ninguém (no planeta Terra inteiro) o acusou desses crimes. Inflar artificialmente as acusações numa tentativa de promover a sensação de que o acusado é inocente – já que ele é, efetivamente, inocente de tais acusações – é um truque retórico barato que só engana crianças; crianças pequenas, bem entendido.

Até aqui, o texto do Sr. Mariano Olsen não apenas nos deu uma informação falsa (o próprio Zúñiga declarou ter 12, e não 14 anos de carreira.) Ele também nos brindou com uma interpretação dos fatos cinicamente equivocada, uma falácia e uns tantos truques retóricos. No entanto, se analisarmos as coisas do ponto de vista ético, elas tomarão um aspecto ainda pior:
Os meios de comunicação na Colômbia começaram uma campanha para apoiar seu filho neste momento preocupante emocionalmente.
Ninguém gosta de ser insultado e ameaçado de morte. No entanto, me parece difícil que Zúñiga, depois do ocorrido, escolha justamente o Brasil para passar suas férias. Ele trabalha na Itália e continuará a viver tranqüilamente sua vida. Neymar, por outro lado, teve uma vértebra quebrada aos ser lesionado pelas costas e foi privado de jogar uma semifinal (e possivelmente uma final) de Copa do Mundo em seu próprio país. Não há termo de comparação. Zúñiga foi vítima de agressões verbais e de ameaças que jamais irão se consumar. Neymar foi vítima de uma agressão física grave e perdeu (para sempre) os dois jogos mais importantes de sua vida. Num quadro como esse, retratar Zúñiga como vítima é praticar o mais descarado cinismo. E por falar em cinismo, o jogador colombiano, em carta dirigida a Neymar, recusou-se até mesmo a admitir que sua ação foi imprudente:
"Siento pesar por esta situación que resulta de una acción normal de juego, la cual no tuvo mala intención, maldad o imprudencia de mi parte".
O que dizer de um jogador que se declara absolutamente inocente depois de quebrar um osso de um atleta de alto nível? Depois dessa demonstração de cinismo (que beira a psicopatia) diretamente dirigida à sua vítima, quem seria ainda capaz de defendê-lo?

O Sr. Olsen é capaz. É impossível deixar de concluir que, ao acusar os outros de "nanismo mental", tudo o que alguém com sua estatura intelectual e ética pode obter é expor-se ao ridículo. Se as redes sociais de fato são, como ele afirma, "redes de esgoto", só alguém muito ingênuo ou despreparado é incapaz de perceber que o jornalismo em geral, com honrosas exceções, também é uma rede de esgoto. E nessa rede, o Sr. Olsen, cujo texto não passa de um exercício retórico que tenta mudar a opinião dos leitores por meio de apelos emocionais, parece sentir-se bem à vontade.

Preparei uma surpresa para o leitor que teve a paciência de acompanhar-me até aqui. Por uma dessas casualidades do destino, a tradução do texto do jornalista argentino guarda uma pérola com a qual irei encerrar este texto. Não se trata propriamente de um erro, longe disso.
"Zúñiga é o inimigo do povo brasileiro, é um criminoso de guerra, um assassino em série, o jogador mais mal intencionado da história do futebol mundial?

Nada disso. Zúñiga é o infeliz responsável por Neymar não poder competir na semifinal da Copa do Mundo do Brasil contra a Alemanha."
O grifo é meu. A despeito de tudo, Mariano Olsen, ao declarar que Zúñiga foi "responsável" pela jogada, está sendo mais severo com Zúñiga do que este foi capaz de sê-lo em relação a si mesmo. Para Zúñiga, Zúñiga nada fez a não ser realizar o seu trabalho. Mas o Sr. Olsen não poderia declará-lo responsável sem tentar atenuar de algum modo sua responsabilidade. Por isso usou a palavra "infeliz".

No dicionário da Real Academia Española, infeliz consta apenas como adjetivo: 1. De suerte adversa, no feliz. 2. (Coloquial) Bondadoso, apocado. ("Apocado" significa "apequenado", "humilde", "simplório"). Já no Gran Diccionario de la lengua española, a palavra consta como adjetivo e também como substantivo. Os significados da palavra são os mesmos: 1. No feliz. 2. (Coloquial) Que es ingenuo, bueno o no tiene picardía. ("Picardía" significa "astúcia", "malícia".) Neste segundo sentido, "infeliz" se opõe a "pérfido".

Há que reconhecer que o Sr. Olsen pinçou cuidadosamente a palavra "infeliz". Ao menos em espanhol, se Zúñiga é o "infeliz responsável", é porque, por infelicidade (ou seja, por azar e/ou sem malícia) ele acabou sendo, pobrecito, responsável pelo que aconteceu a Neymar.

Tal como em português, também em espanhol o sentido da oração muda inteiramente segundo lemos o "infeliz" como substantivo ou como adjetivo. Só que em espanhol todos os sentidos são favoráveis: ora Zúñiga é um "azarado", ora ele é alguém que agiu "sem malícia".

No entanto, para a... infelicidade do Sr. Olsen, a palavra "infeliz" possui, na língua portuguesa, alguns matizes adicionais. Lendo a palavra "infeliz" como substantivo, e contando com o auxílio precioso do Houaiss, podemos extrair dela uma pequena coleção de insultos lapidados como rubis. Afinal, se mesmo o xingamento é uma arte, não há razão para usar vulgares impropérios de arquibancada.

Infeliz. Desgraçado, fracassado, miserável. Aquele cuja presença não é desejada, bem-vinda.

* * *

Neymar e Zúñiga trocaram algumas palavras segundos antes do joelhaço. Não parecia ser uma conversa inamistosa. Depois Neymar olhou várias vezes para trás, como se estivesse preocupado com o colombiano. Eu adoraria saber o que foi dito pelos dois.

6.7.14

Estamos perto de algo muito grande, diz Messi


clique nas imagens para ampliá-las


(Ainda) algumas palavras sobre futebol

Depois do que aconteceu ontem com Neymar, é impossível não pensar nas palavras de Nietzsche: é preciso defender os fortes contra os fracos. Quem são os fortes? São aqueles que se caracterizam pelo excesso: excesso de entendimento, de sensibilidade, de criatividade. Se Neymar é um forte, não é por excesso de músculos, e muito menos por excesso de dinheiro ou poder: qualquer retardado pode acumular músculos, dinheiro e poder, e nem por isso se tornará jamais um forte. Neymar é um forte em razão de seu excesso de talento, pela regularidade com que franqueia a tênue linha que separa o futebol como simples esporte do futebol como obra de arte.

E quem seriam os fracos? Em primeiro lugar, eu diria que quem troca o entendimento pela idéia fixa, a sensibilidade pela Lei e a criatividade pela segurança é um fraco. E, em segundo lugar, eu diria que aquele que se ressente com o excesso do forte é um fraco. O fraco é aquele que, ao invés de aprimorar sua própria força, visa destruir e/ou limitar a força do outro.

Ora, se é assim, é preciso impor limites aos fracos. Penso que é desse ponto de vista que se pode pensar de maneira positiva a Lei: como um limite imposto pela sociedade aos insensíveis, aos ressentidos, aos fracos de cabeça, aos obcecados por idéias fixas. (Talvez seja até possível dizer que todos os crimes – desde os passionais, motivados pelo ódio ou pelo ciúme, até os crimes cometidos em função de dinheiro, poder ou ideologia – resultam da obsessão por idéias fixas.)

Assim, quando um árbitro de futebol como Carlos Velasco Carballo se omite e deixa de aplicar a lei (ou, no caso do futebol, as regras), os fracos festejam e os fortes padecem.

* * * 

No jogo de ontem a seleção brasileira jogou duro, mas não de forma desleal. Tanto é assim que nenhum (mas nem unzinho só) jogador colombiano deixou a partida por contusão. Quanto à joelhada de Zúñiga em Neymar, não basta ver o corte que os canais de TV repetiram à exaustão. É preciso recuar alguns segundos e mostrar o lance desde o início. Neymar e Zúñiga estão parados; e quando a bola vem na direção de Neymar, Zúñiga dá um pique curto e mete o joelho nas costas do craque. Não tenho o vídeo do lance inteiro para mostrar aqui. Mas as duas imagens abaixo falam por si mesmas. 


 (clique nas imagens para ampliá-las)


Abaixo, a falta de Zúñiga em Hulk: cartão vermelho?



Mais um exemplo do fair play colombiano;
Cuadrado esquece a redonda e vai direto no corpo do Neymar:


A imprensa colombiana está dizendo que o Brasil comprou a arbitragem. Deve ser por isso que, neste lance, o juizão marcou uma falta perigosíssima, na entrada da área, contra o Brasil:


Só que nem falta foi. O colombiano sequer foi tocado. E se houve "pé alto", foi pé alto dos dois jogadores. Mas o colombiano fez cena e o juiz entrou na dele.

Mas se a imprensa colombiana é livre para dizer o que quiser, o mesmo vale para a imprensa brasileira. Ricardo Boechat, "âncora" do telejornal da Bandeirantes, disse neste sábado que não viu maldade na entrada de Zúñiga sobre Neymar.

É o tipo de coisa que me faz coçar a cabeça. Como é que um cara que não sabe interpretar nem mesmo um acontecimento tão simples quanto esse vira "âncora" de jornal? Se depender de mim, Boechat será titular na lateral esquerda da seleção brasileira de âncoras de cabecinha fraca. Com o Boris "Sai Daqui Gari" Casoy na lateral direita, claro. Não ofenda nossa inteligência, Boechat!

* * *

Ao não substituir Neymar, Felipão perdeu uma preciosa oportunidade de antecipar-se aos acontecimentos. Se o craque tinha cartão amarelo e não estava jogando bem, e se a partida estava cada vez mais tomando uma feição latino-americana, substituir Neymar seria uma jogada mais decisiva do que um pênalti. Aliás, eu esqueci de mencionar isso ontem, mas até o Galvão Buenísimo acabou mencionando essa possibilidade a certa altura do segundo tempo. Bem depois de mim, claro. E se até o Galvão chegou a pensar nisso, por que não o Felipão? Mas agora não adianta chorar o leite derramado.

* * *

Ok, o juiz espanhol apitou muito mal, mas... E a FIFA? Ah, a FIFA... Mesmo sem receber para isso, vou indicar aqui a solução para essa vergonha dos cartões economizados. Primeira fase (fase de grupos): vale a regra atual. Dois cartões amarelos suspendem o jogador para o próximo jogo. Segunda fase (das oitavas à final): os cartões amarelos não acumulam. O cartão vermelho, claro, sempre suspenderá o jogador para o próximo jogo, seja em que fase for. Pronto! Os árbitros poderão distribuir cartões normalmente de acordo com as regras e zelar pelo bom futebol. Uma variação possível (e muito interessante) seria prolongar o efeito dos cartões amarelos da primeira fase, como se faz hoje, mas apenas para os jogos das oitavas. Assim, quem tomasse dois amarelos em dois dos três primeiros jogos da primeira fase seria punido com a suspensão. Mas nos três últimos jogos não haveria acumulação de cartões amarelos. Com esse sistema e com uma atuação rigorosa dos árbitros, que teriam apenas de ter coragem de dar os cartões apropriados sempre que isso fosse necessário, a deslealdade estaria sob controle.

É claro que a solução ideal passa pelo controle externo da arbitragem com a análise das jogadas pelo vídeo. Mas enquanto isso não chega, vale qualquer coisa para garantir mais lisura nos jogos.

* * *

Os argentinos estão especialmente tristes com a contusão de Neymar. E não é cinismo! É que eles sabem que, na hipótese de conquistarem o título sobre o Brasil na final, os brasileiros terão, eternidade afora, uma desculpa de peso para diminuir os méritos da vitória argentina. Afinal, o Brasil perdeu de forma trágica seu principal jogador e o duelo Messi versus Neymar não irá mais acontecer. Dos uruguaios, então, nem se fala. Aos poucos eles irão perceber que o maracanazo foi também a cagada do século. Estudem a história da Copa de 1950 e vocês entenderão de que estou falando.

Mas será que Brasil e Argentina chegarão mesmo à final? Como tem acontecido até aqui (com exceção do jogo contra Camarões), o Brasil terá um jogo bem mais difícil pela frente. E se o Brasil não bater a boa seleção da Alemanha, a Argentina também não baterá. O campeão sairá do jogo entre Brasil e Alemanha. É uma final antecipada.

4.7.14

(Mais) algumas palavras sobre futebol

Aos 25 minutos do segundo tempo, pouco depois do gol de David Luiz, eu comecei a dizer para o Felipão: "Tira o Neymar e coloca o Bernard..." Repeti a frase várias vezes durante os minutos seguintes. Neymar poderia levar o segundo amarelo; ele poderia se machucar; e já que não estava mesmo fazendo uma grande partida, mais valeria colocar sangue novo, no caso Bernard, um jogador hábil e veloz o bastante para liquidar o jogo num contra-ataque.

Felipão, é claro, não me ouviu, e provavelmente não teria me ouvido ainda que eu estivesse bem ao seu lado. Depois que a Colômbia diminuiu a vantagem, ele preferiu fazer mais do mesmo, tirando Hulk e colocando Ramires. E ali pode ter começado a derrocada do Brasil na Copa do Mundo de 2014.

Derrocada que poderia ter se consumado hoje mesmo. Quando Neymar, que está fora da Copa, se machucou, Felipão o substituiu... por um zagueiro. A Colômbia vinha com tudo para o ataque, e se conseguisse o empate, seríamos eliminados na prorrogação. Afinal, sem Neymar, sem Hulk e sem Fred (que já estava morto), e sem a possibilidade de fazer qualquer outra modificação (Hernanes havia substituído Paulinho), pouco poderíamos fazer senão tentar segurar o resultado e levar a decisão para os pênaltis.

Se bem que os dois gols do Brasil foram feitos (em bolas paradas) pelos nossos dois zagueiros, os melhores do mundo. Por causa de um cartão amarelo bobo, um deles está fora da semifinal. Há trinta ou quarenta anos, o que ele fez teria sido um lance absolutamente normal e o Brasil teria feito o terceiro gol. Ao que parece, as coisas mudaram. Mas se as regras mudaram e Thiago Silva não foi avisado, a responsabilidade é toda da comissão técnica. Numa Copa do Mundo, todas as possibilidade precisam ser discutidas. E se aquilo que valia na época de Pelé (lembram?) não vale mais, os jogadores precisam ser lembrados disso.

Tudo o que eu sei é que eu jamais ouvi falar dessa mudança nas regras. Se o goleiro joga a bola para cima, a bola está em jogo; e ele que se cuide para que não lhe tirem o doce da boca. Se essa hipótese estiver correta, e se o que Thiago Silva fez não é ilegal, o juiz, num único lance, nos roubou um gol e tirou da semifinal um dos melhores jogadores do mundo.

E o juiz? 

Se o colombiano Zúñiga tivesse levado ao menos um cartão amarelo quando entrou com a sola da chuteira no joelho de Hulk, talvez pensasse duas vezes antes de voar com o joelho nas costas de Neymar. Mas ele saiu do jogo sem nenhum cartão. Carlos Velasco Carballo é o nome do péssimo árbitro espanhol.

E a Alemanha? 

Sem Neymar e Thiago Silva, nossa seleção não terá, a princípio, a menor chance contra um time habilidoso, ofensivo e bem estruturado como o da Alemanha. Mas milagres acontecem, e se a seleção conseguir a façanha de vencer a Alemanha, acabará vencendo a Copa. Não conto com isso, mas vou torcer muito. Não é impossível.

O problema é que Felipão é, digamos assim, um homem de sinapses consolidadas. É um bom técnico, mas entende tanto de criatividade quanto eu entendo de estamparia em tecidos – e seu time é um reflexo disso. Se vencermos, venceremos apesar dele.

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