22.7.17

Muy amigo

Ainda que com as melhores intenções, o simpático senador (e ex-presidente) do Uruguai José 'Pepe' Mujica acabou de enterrar de vez o futuro político de Lula.

Numa entrevista ao BBC Brasil, Mujica declarou (de forma inteiramente espontânea) o seguinte:
Olha, eu mantenho minha fé no Lula. Eu o conheço há muitos anos. O acusam por um sítio. Uma vez estive no sítio e é muito simples, com uma casinha.
Como dizemos aqui no Brasil, quem tem um amigo desses não precisa de inimigos.


13.7.17

O formol nosso de cada dia

As litografias de uma artista que conheço começaram a apresentar mofo. Seu professor de desenho, aliás um dos maiores artistas brasileiros, recomendou-lhe, do alto de seus 87 anos, um tratamento com formol embebido em papel manteiga ou vegetal. Depois de secas, essas folhas serão colocadas em cima dos trabalhos comprometidos e abafadas com plástico ou num lugar fechado. Problema resolvido.

Só que não. Mesmo em casas especializadas na venda de produtos químicos, a venda de formol é proibida para pessoas físicas, em razão, ao que eu ouvi dizer, da atividade de algumas cabeleireiras malucas que o usam nas cabeças de suas clientes.

E agora? E agora nada. É muito fácil comprar formol na ilegalidade, e tanto é assim que as tais cabeleireiras continuam a trabalhar com ele.

O problema é que, ao invés de concentrar-se o armazenamento da substância, que é realmente perigosa, em alguns poucos pontos de venda profissionais, temos agora centenas ou talvez milhares de vendedores clandestinos que armazenam o produto em suas casas. O risco é enorme, sobretudo para crianças e animais domésticos. Como muitas dessas vendas acontecem online, carteiros e porteiros também passam a correr riscos.

Se a venda fosse simplesmente regulamentada (por exemplo, com a identificação dos compradores), a situação seria outra. Mas não. É preciso proibir. E, com a proibição, surge uma nova oportunidade de negócio.

Assim "cuida" o Estado de seus pobres cidadãos, que, em vez de receberem educação, são mantidos num perpétuo estado de menoridade, sempre sendo protegidos de si mesmos. E a coisa termina assim: ao invés de diminuir-se o risco, faz-se com que ele seja aumentado; aqueles que precisam do produto para fins legítimos caem na clandestinidade; aqueles que o usam para fins ilegítimos não sofrem nenhum óbice em sua atividade; e as obras de arte continuam mofadas, sofrendo danos progressivos, enquanto os artistas não encontram um traficante que lhes venda a substância proibida.

12.7.17

Nem acima, nem abaixo

De acordo com a nota oficial do PT a respeito da condenação de Lula no processo do triplex, "Lula não está acima da lei, tampouco abaixo dela."

Não foi um erro de digitação. A frase também é apresentada em inglês (Lula is not above the law, either below it) e espanhol (Lula no está por encima de la ley, tampoco abajo de ella.)

Se Lula não está acima, mas também não está abaixo da lei, onde está Lula? Estará ele no mesmo plano da lei?

A megalomania do populismo latino-americano nunca pára de me surpreender.


6.7.17

Crise política 3: duas (improváveis) propostas

O parlamentarismo, o voto distrital, o fim do voto obrigatório e as candidaturas independentes são algumas das propostas atuais para uma reforma política no Brasil. O problema é que a deterioração da situação brasileira exige propostas radicalmente inovadoras e, por isso mesmo, pouco convencionais.

A primeira delas seria a erradicação da influência do dinheiro na campanha eleitoral. Transformar a campanha num austero debate de idéias e propostas seria uma forma de despir o rei e toda a sua corte. Já vimos no que dá encarar a política como um espetáculo. As campanhas devem assemelhar-se a reuniões de condomínio, e não a superproduções de Hollywood. Em vez de publicitários vendendo candidatos, teríamos os próprios candidatos vendendo aquilo que interessa: suas idéias e propostas. Qual seria o lugar privilegiado para uma campanha seca como essa? A Internet, claro. Seria chato? Sem dúvida. Mas é exatamente por isso que não há reunião de condomínio (ou eleições) todo dia.

A segunda proposta seria a criação de um grande fórum de debates na Internet onde qualquer cidadão poderia sugerir mudanças na legislação e soluções para problemas da esfera pública. Já existe uma iniciativa semelhante no Senado, mas ela não pode nem mesmo ser comparada a um autêntico fórum de debates. Um fórum daria, para além da representação, voz ao cidadão qualquer, e seria uma bela ferramenta para aprimorar e aprofundar a democracia. Apenas as forças mais ferrenhamente antidemocráticas (à direita e à esquerda) se posicionariam contra uma iniciativa como essa. Estados e municípios poderiam manter seus próprios fóruns; o custo dessas assembléias virtuais seria irrisório.

Terão essas jabuticabas alguma chance de prosperar? Duvido muito. Estamos eternamente condenados ao subdesenvolvimento? Se depender de nossa classe política, sim.

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