29.11.07

paz favor

21.11.07

Deus

ego sum qui sumiu

Eu

ego sumiu

ego sum(iu)

Era uma vez um bando de intensidades brincando de roda. Elas eram de todos os jeitos, altas, baixas, magras, gordinhas; algumas eram assustadoras como os olhos de uma mulher em êxtase. E brincavam de penetrar umas nas outras e de disfarçar-se umas nas outras, tornando-se sempre diferentes de si mesmas.

Então elas encontraram, todo encolhidinho num canto, um ego. "Qual é o seu nome?", perguntaram, e ele respondeu timidamente: "Eu". "Tem certeza, pequenino, de que você é eu?" "Sim, tenho certeza, eu sou e sempre fui eu." Então as intensidades começaram a rir como jamais haviam rido antes, e riram até perder inteiramente o fôlego. Quando voltaram a si e procuraram o eu, não o encontraram: ele havia desaparecido.


triagem, 21/12/2005

13.11.07

madame la doctoresse

Sou uma mulher moderna. Gosto de gente inteligente, sensível e articulada. Onde botei meus óculos? Tenho gosto pela cultura - música, cinema, literatura, pintura e museus. Já viajei os cinco continentes e falo oito línguas. Hélas, como é que eu vou achar meus óculos sem os meus óculos? Modéstia à parte, sou doutora em semiótica e sei das coisas. Opiniática é a mãe! Eu sou é mulher de opinião. Arre, que está tudo embaçado. Todos esses filósofos que não fazem do amor a realidade suprema sofrem de problemas sexuais, ouçam o que estou dizendo. Somos seres psíquicos e, como dizia a minha amiga Marina, tudo é um problema de somatização corporal. Mas onde estão os malditos óculos? Não consigo enxergar absolutamente nada! Acho que pisei em alguma coisa.

11.11.07

a cultura e a morte - nova série (8)

Enganar-se-ia aquele que descrevesse o agente da cultura como alguém marcado pela vaidade e pelo desejo de reconhecimento. Afinal, onde grassam tais sentimentos o que se constata é o fracasso da própria cultura, sua degeneração em um sistema de poder calcado num sistema de representações.

Mas o que o agente da cultura deseja não é o desejo do outro, não é seu reconhecimento: o que ele deseja é tão somente um eco. É preciso dar à palavra eco um sentido muito preciso, sob pena de permanecer no vago. Sem dúvida o eco ressoa imitativamente o som (o signo) emitido pelo emissor, e nesse sentido poderíamos pensar que o eco desejado pelo agente da cultura seria precisamente a repetição, tão fiel quanto possível, daquilo que ele mesmo emite. Estaríamos assim tomando o eco como uma representação, como a re-apresentação daquilo que foi emitido, e talvez tomando a semelhança entre o eco e a emissão original como o próprio critério de sucesso: tal como acontece com o professor que toma a lição e compara com as suas as respostas dos alunos. Mas esse é precisamente o aspecto mais neglicenciado pelo agente da cultura, pouco lhe importando que o eco seja inteiramente diverso da "mensagem" original: ele valoriza o eco apenas como índice de um contato. Ele está menos preocupado com a "mensagem" (e sua "comunicação") do que com o fato de que sua emissão, ao invés de perder-se no vazio, encontrou um anteparo. O eco nada mais é do que o signo de que o signo emitido encontrou-se com um receptor. É uma questão sobretudo física: houve um contato e um encontro; e o eco é precisamente o signo desse encontro.

Infelizmente, o sistema de ensino atual valoriza sobretudo a parte representativa do eco (a resposta imitativa, o retorno do idêntico ou do semelhante) em vez de estimular uma física das idéias e dos afetos: "ensinar", ao invés de forçar o pensamento a pensar e a criar.

9.11.07

caminhos do acaso

Esta é a resposta ao "desafio" proposto aqui - sem batota. =)

¡Y sed de lo nocturno!

Nietzsche, Así habló Zaratustra, Alianza, Madrid, 10ª ed., p. 161.

Como eu sou um quebrador de correntes contumaz, não passarei a tarefa adiante. Ao invés disso, encerro a nota (um tanto aleatoriamente) com uma frase de Itamar Assunção: "é preciso afinar o coro dos descontentes".

5.11.07

As lágrimas praticamente esguichavam, pois todas as pessoas estavam sorrindo, e sim, parecia que elas se importavam umas com as outras, mas não, elas não se importavam realmente.

Acordou mais sozinho do que nunca, mas sabia que alguém, em algum lugar, se importava. Era o bastante. Tomou um banho frio e saiu.

2.11.07

estes vincos que chamas de rugas
nelas vendo só carne derrocada
- o bagaço do suco derramado -
são os sulcos de tantos momentos:
as pregas em que se implica
a grossa plica do tempo.
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