9.10.09

convivência

Quem convive diariamente com intelectuais pode facilmente chegar à conclusão de que o trabalho intelectual é mera vaidade, ou pior, mero conchavo para gozar de congressos em praias paradisíacas onde se urdem os conchavos do futuro; tudo isso, claro está, com todas as despesas pagas. Escolas e universidades, por via de regra, são grandes pântanos onde o élan do pensamento termina por chafurdar.

Se você realmente quer pensar, prepare-se para pensar sozinho - ou desista.

7.10.09

lotação esgotada

D'après Raphaela

Se todos os chineses forem bonzinhos, vai faltar lugar no Céu.




P.S. - Se isto lhe parecer tolinho é porque você jamais leu o Apocalipse... 

a tristeza é fascista

Eu tinha entre 16 e 17 anos, era órfão e fodido (no sentido financeiro do termo, bem entendido) e via-me forçado a trabalhar e estudar, dobradinha que um jovem dessa idade geralmente suporta a contragosto - o que é bastante compreensível, já que nessa fase da vida o trabalho costuma ser alienado (no sentido que o barbudão dá a esse termo), e os estudos, quase que inteiramente desinteressantes. Para piorar as coisas, havia me intoxicado com todo o Sartre que era capaz de digerir e tudo era náusea e morte na alma. Em resumo: além de ser jovem, ou seja, escravo das condições exteriores, eu ainda cultivava cuidadosamente minha tristeza; tristeza que nem mesmo era a minha, já que bem lá no fundo eu ardia numa alegria fatal e inexplicável, mas a do mundo.

Foi então que li em algum lugar, provavelmente no Pasquim, uma frase de Glauber Rocha que deu um nó na minha cabecinha: a tristeza é fascista. Qualquer fã mais ardoroso da lógica teria rejeitado imediatamente esse curto-circuito insólito entre sentimento e política, mas eu sequer tive tempo de acionar minhas defesas lógicas. Aquilo simplesmente fez sentido, embora eu não tivesse a mínima idéia do porquê. Não entendi nada, mas isso pouco importava, já que aquilo me dizia respeito.

Trinta anos se passaram e eu jamais esqueci essa frase. Hoje eu sei que Glauber era um gênio. Hoje eu saberia explicar essa frase com minúcias de amanuense, o que por sorte é totalmente desnecessário já que o nível dos meus parcos leitores é pra lá de alto. Hoje, escrevendo sobre uma das aulas de Deleuze sobre Spinoza (que será publicada em breve em webdeleuze), pensei em usá-la no meu texto e fui procurá-la no Google, quase que por nada, quase como quem diz "vejamos o que conseguem dizer os outros sobre a frase que me pertence".

Encontrei uma única referência. É isso mesmo: em toda a Internet, só encontrei essa frase em um único lugar, lugar esse que está muito longe de ser um lugar de destaque: ela está num blogue, perdida entre os comentários a uma nota circunstancial já sem qualquer interesse (se é que chegou a ter algum na época). O blogue se chama triagem e eu mesmo a havia escrito.

Agora a busca passará a dar dois resultados. E eu ficarei a me perguntar por que diabos eu fui o único a reter essa frase durante todo esse tempo. Pensando bem, acho que vou apagar ambas as referências e relançar a frase como sendo minha. É possível que na minha adolescência eu tenha sonhado que era Glauber sonhando um filme sobre um filósofo holandês no Maranhão.




P.S. -  É, eu sei que o prezado leitor não vai resistir à tentação de fazer ele mesmo sua busca no Google. Já que é assim, lembre-se de que tristeza e fascista tem aos montes por aí. Use aspas para procurar a frase exata: "a tristeza é fascista".

P.S. II - Lembre-se de que será imensamente fácil achar todos os que copiarem a frase por aí... Se quiser usar, pague! Eu só não sei, a essa altura, a quem pertencem os royalties. Na dúvida, mande-os para mim.

P.S. III - Informação útil para os que não me conhecem: o P.S. II é uma blague. Mas mande os royalties assim mesmo.

P.S. IV -  "Maranhão" também quer dizer "mentira engenhosa", o que obviamente nada tem a ver com o relato acima.
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