25.6.06

a pobreza interessa a todos

A pobreza interessa a todos. Ela interessa àqueles que a exploram diretamente, e interessa também àqueles que a exploram indiretamente, usando-a como sustentação para seus planos de poder.

Mas pobreza não é apenas miséria material. Pobres são aqueles que não têm o que comer, mas também aqueles que passam o domingo arrotando em frente à televisão e repassando aos seus filhos toda a estupidez herdada de seus avós. Essa pobreza também interessa a todos. Produzir um rebanho sexual e economicamente ativo - porém nulo em termos noéticos e políticos - é o sonho de qualquer poder estabelecido ou que deseje estabelecer-se.

Não é apenas indiferença. Não é apenas falta de vontade. Não é uma falha do sistema. O capitalismo é uma fábrica de miseráveis e de retardados mentais. E isso interessa a todos: aos de cima, aos de baixo, aos de direita, aos de esquerda.
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24.6.06

Inda caminha em minha espinha
o fortuito olhar de um cego,
o bom-dia de um surdo-mudo,
o gesto vivo de tantos mortos.

Nós, se nós somos, somos nós
do que o tempo em nós torceu,
e nestes nós de tantos nós
outros nós de nós retornarão.
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20.6.06

sobre a imitação (Gabriel Tarde)

"Voltemos ao casal social elementar que eu mencionei há pouco, não o casal do homem e da mulher que se amam - esse casal, enquanto sexual, é puramente vital - mas o casal de duas pessoas, seja qual for o sexo a que elas pertencem, no qual uma age espiritualmente sobre a outra. Eu afirmo que a relação dessa duas pessoas é o elemento único e necessário da vida social, e que ele consiste sempre, originalmente, em uma imitação de um pelo outro. Porém trata-se de bem compreender isto para não cair sob o golpe de vãs e superficiais objeções. O que não se poderia me contestar é que dizendo, fazendo, pensando não importa o que, uma vez engajados na vida social, nós imitamos outrem a cada instante, a menos que nós inovemos, o que é raro; e ainda é fácil mostrar que nossas inovações são em sua maior parte combinações de exemplos anteriores, e que elas permanecem estranhas à vida social enquanto não forem imitadas. Vocês não dizem uma palavra que não seja a reprodução agora inconsciente, mas inicialmente consciente e desejada, de articulações verbais remontando ao mais longínquo passado com um sotaque característico da sua vizinhança; vocês não realizam um rito de sua religião, sinal da cruz, prece, que não reproduza gestos e fórmulas tradicionais, ou seja, formadas pela imitação dos ancestrais; vocês não executam uma ordem militar ou civil qualquer, ou um ato qualquer de sua profissão que não tenha sido ensinada e que não tenham copiado de um modelo vivo; vocês não dão uma pincelada, se são pintores, não escrevem um verso, se são poetas, que não seja conforme aos hábitos ou à prosódia de sua escola; e sua própria originalidade é feita de banalidades acumuladas, e aspira a tornar-se banal por sua vez.

Assim, o caráter constante de um fato social, qualquer que seja, é ser imitativo. E esse caráter é exclusivamente próprio aos fatos sociais."

Gabriel Tarde

Les Lois Sociales - Esquisse d'une Sociologie, Paris, Félix Alcan, 1898, p. 34-35.

19.6.06

No plástico destas teclas percorridas
sem tato nem tutano,
moldado de líquido espesso
milhões de anos dormecido,
há um dinossauro
que flerta com uma estrela.

18.6.06

Norma relaxou
Teresa foi em cana
Andréia pegou doença
Julieta não deu
Maria mas não foi
e eu não tenho prima.

15.6.06

o ponto cinza de paul

"O sábio O iniciado pressente o ponto original da vida: ele possui um pequeno número de átomos viventes sob forma de conceitos que tornam possível o ato da criação; ele conhece um pequeno ponto cinza que permite fazer o salto do caos à ordem."

Paul Klee

La pensée créatrice, trad. Sylvie Girard
Paris, Dessain e Tolra, 1980, p. 60
(correção do autor)
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