Foram amar-se pela primeira vez em sua casa, depois de comerem sorvete com gérmem de trigo. Gostavam-se já. No melhor da coisa, um intenso cheiro de flores invadiu o quarto. Passado o ardor, foi naquilo que primeiro falaram. Tão gostoso, aquele cheiro. É uma presença boa, disse ela. Ele concordou, porém pensando no corpo que nele se enrolava. Ele era ali e nada mais. É uma presença boa, pensou.
No dia seguinte, sozinho, sentiu na madrugada um nítido cheiro de merda. Que merda!, pensou. Vinha do nada, como na noite anterior. E se existissem as coisas onde ele punha dúvida, presenças, entidades ou a cascudice que fosse? Se, condicional, existissem, aquele cheiro não havia de ser bom sinal. Que seja. Acendeu um incenso e foi dormir.
O barulho de móveis arrastados despertou-o na manhã seguinte. A faxineira falava sem parar, de modo que pôde ouvir sua cantilena em crescendo desde o corredor até a porta de seu quarto.
- Sua vizinha está cantando no banheiro. Sabonete cheiroso o dela, parece de fada. E o senhor está virando criança outra vez, que negócio é esse de não puxar a descarga?