Ligar a TV é sempre uma experiência surreal.
Outro dia mesmo uma menina caiu da laje. Estava tranqüila, falando; imagino-a até sorrindo. Esperou mais de duas horas por uma ambulância e acabou morrendo. Isso não é um crime intolerável? E no entanto só falam da outra, branca e de classe média.
Ouço a chamada: existe um tempo ideal para a relação sexual. Saiba se você...
Mas que estupidez. Sexo, como todo o resto, é acontecimento. Cinco minutos, cinco horas, cinco dias... DEPENDE! Mas e os tolos que acreditam no "ideal"? Como ficam?
Depois, a indignada propaganda das fábricas de cerveja contra a proibição da propaganda de cerveja na TV. O argumento é o seguinte: eles apenas anunciam seu produto. Se uns poucos bebem demais e fazem bobagem, o problema é dessa minoria, e não deles ou da maioria que apenas engorda em frente à TV.
Qualquer debilóide com metade do cérebro extirpado a golpes de facão percebe que há um vício nesse raciocínio. Pois se a propaganda influencia indiscriminadamente gente que bebe com responsabilidade e gente que bebe e fica propensa a fazer bobagem, estimular mais gente a beber é aumentar o número tanto dos primeiros quanto dos últimos.
Para rematar o cinismo da coisa toda, eles invocam a liberdade de expressão como um direito sagrado. Mas já existem limites à liberdade de expressão. Propaganda nazista e racista não pode. Propaganda de drogas pode?
E vender tolices como o "tempo ideal" de uma relação sexual, pode também?
O que queremos afinal? Um povo de pensadores ou um rebanho de neuróticos atormentados por fantasmas derivados de normas imaginárias? É, talvez a vida se torne mais fácil para eles se estiverem entorpecidos pelo álcool e por um monte de imagens coloridas, de preferência em altíssima definição...
Agora me respondam: sou eu quem tem que perder seu tempo dizendo essas coisas?